Buscar no Blog

sábado, 13 de abril de 2013

Sócio de Monteiro Lobato fala sobre o escritor; releia entrevista de 1963

Monteiro Lobato encanta crianças e adultos com as aventuras do Sítio do Picapau Amarelo desde a década de 1930, quando lançou seus principais livros infantis, como "Reinações de Narizinho" e "Caçadas de Pedrinho".

Em 17 de novembro de 1963, 15 anos após a morte do escritor, a "Folhinha" entrevistou Octalles Marcondes Ferreira, na época diretor da Companhia Editora Nacional. Amigo e sócio de Lobato, Octalles falou sobre sua relação com o pai do Sítio do Picapau Amarelo e contou algumas curiosidades.

A entrevista foi feita por Tais Helena Bastos Pinto, na época com 8 anos, e Pedro Barros Silva, que tinha 11 anos em 1963.

Leia a íntegra do texto abaixo.

Reprodução

Monteiro Lobato com seus personagens na "Folhinha" de 1963

Monteiro Lobato com seus personagens, na "Folhinha" de 1963

*

A manhã estava linda. Fomos então, eu e o Pedrinho em companhia de outros garotos do Instituto de Educação Caetano de Campo entrevistar o sr. Octalles Marcondes Ferreira, diretor-presidente da Companhia Editora Nacional. Ele é uma criatura maravilhosa e achou muito bom conversar com a gente.

Então, ele contou que para publicar seus livros, Lobato fundou em 1923 a Cia. Gráfica Monteiro Lobato, que funcionou até 1926. Depois surgiram muitas dificuldades e também por causa da falta de energia elétrica, a empresa foi à falência. E fomos perguntando:

-- O sr. trabalhou com ele?

-- Sim. Eu era datilógrafo da Associação Comercial quando Lobato me convidou para trabalhar com ele. Depois de um ano a empresa faliu, mas eu arranjei crédito e comprei a E. M. L. e convidei Lobato para ser meu sócio. A empresa passou a chamar-se Cia. Editora Nacional.

-- Até quando trabalharam juntos?

-- Até 1931, quando Lobato resolveu sair da firma. Aí continuei sozinho na direção da empresa. Juntos iniciamos a maior empresa editorial do país, que hoje publica sete milhões de livros por ano.

-- Continuaram amigos?

-- Sim. Eu e Lobato continuamos grandes amigos.

-- Por que o sr. escolheu os livros dele para editar?

-- Não fui eu que escolhi. Foi Lobato. Eu tinha só 19 anos quando comecei a trabalhar com ele. Depois tornei-me seu sócio e, aos 25 anos, eu editava seus livros.

-- Qual o primeiro livro de Lobato que o sr. editou?

-- "Reinações de Narizinho", que considero o melhor de todos.

-- O sr. também é de Taubaté?

-- Não. Sou da família Marcondes de Pindamonhangaba, mas meus antepassados eram parentes de Lobato.

-- Lobato criou suas personagens inspirado em pessoas?

-- Em Muquira, cidade que veio a se chamar Monteiro Lobato, Lobato passou grande parte de sua vida na fazenda de seu avô. Creio que as personagens do Sítio do Picapau Amarelo em parte saíram de lá.

-- Quantos livros Lobato escreveu?

-- Uns trinta, mais ou menos, e foram reproduzidos em várias edições de milhões de exemplares.

-- Lobato foi só escritor?

-- Não. Lobato foi também um grande pintor. Tenho muitas aquarelas dele. Quem tem dezenas de trabalhos é o Tio Candinho (Cândido Fontoura), que foi grande amigo de Lobato também.

-- Lobato trabalhava muito?

-- Levantava-se muito cedo. Começava a trabalhar às 5 horas da manhã e ia até às dez. Depois lia, passeava, frequentava livrarias, visitava amigos. Não passava noites escrevendo como fazem muitos escritores. Quando queria era rápido. Chegou a escrever um livro em 21 dias.

Seguindo o velho lema de Lobato, "um país se faz com homens e livros", Octalles procurou encaminhar suas atividades editoriais para o lado educacional, com o objetivo de preparar os leitores do futuro. Assim é que especializou a Cia. Editora Nacional em livros didáticos para todos os níveis e é hoje responsável pela publicação de 65% das obras escolares que se usam no país.

O tempo passou muito depressa. E tivemos que abandonar aquela agradável conversa com Octalles Marcondes Ferreira. E saímos dali certos de uma coisa. Que aquele homem extraordinário adora crianças. Pois não é que ele nos tratou com toda a ternura e nos deu atenção e respeito como se fôssemos gente grande?

E acho que para ele, como acontece com muita criança, Monteiro Lobato não morreu, não. Ele continua ali rodeando sua mesa de trabalho, sorrindo, lendo, escrevendo, pitando seu cigarrinho e dando ideias para muito e muito livros novos.

MONTEIRO LOBATO

Monteiro Lobato tornou-se célebre pelas suas notáveis qualidades de inteligência, senso de humor e generosidade. Escritor dos mais famosos que o Brasil já teve, tornou-se imortal no coração da criançada com os livros infantis em que tornou humanas as personagens do Sítio do Picapau Amarelo.

Grande amigo de Octalles Marcondes Ferreira, ao lado de quem fundou uma editora que teria como principal finalidade editar seus livros, não chegaria a ver repercussão nacional que hoje a empresa vem alcançando nos meios educacionais.

As crianças sentem que Monteiro Lobato não morreu. Sentem-no vivo ao lado de Narizinho, Emília, Tia Nastácia, Dona Benta, Visconde de Sabugosa, Pedrinho, com todos acontecimentos e coisas do Sítio do Picapau Amarelo, que não só as crianças, mas também os adultos, sabem viver entre o sonho e a realidade.Octalles Marcondes Ferreira com os repórteres mirins da "Folhinha" de 1963

Reprodução: Octalles Marcondes Ferreira com os repórteres mirins da "Folhinha" de 1963

Nenhum comentário: