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Monteiro Lobato

Vida


O homem que revolucionou a indústria editorial no pais, fixou-se na memória e no coração dos brasileiros graças ao conjunto de sua obra literária, voltada para crianças, jovens e adultos



      José Bento Monteiro Lobato foi personagem extremamente popular no Brasil, entre os anos de 1935 e 1948 - enquanto vivo - e a sua popularidade, principalmente como autor de livros infantís, estendeu-se até boa parte da década de 50.       Foi o autor que mais escreveu para crianças em todo o mundo, sendo a sua obra considerada a mais extensa de literatura infantil de que se tem notícia. No periodo de 1925 a 1950, foram vendidos um milhão e meio de exemplares de seus livros.


     Nesse período de aproximadamente 20 anos pelo menos duas gerações de brasileiros que hoje estão na faixa de 40 a 65 anos, leram a obra infantil de ML, editada aos milhões de exemplares - levando-se em consideração a época em que a mídia mais poderosa era o rádio, e não voltada ao público infantil, não existia televisão e eram poucas as opções de lazer.


      Abaixo temos a cronologia de Monteiro Lobato, de acordo com o livro Monteiro Lobato - A Modernidade do Contra da escritora Marisa Lajolo.


1882 - Em 18 de abril nasce em Taubaté José Renato Monteiro Lobato, Filho de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Augusta Monteiro Lobato, na casa do avô materno, José Francisco Monteiro, Visconde de Tremembé.
1886 - Nasce Ester Monteiro Lobato (Teca), outra filha do casal.
1888 - Já alfabetizado pela mãe, José Renato tem aulas particulares com Joviano Barbosa.
1889 - Em Taubaté, Monteiro Lobato freqüenta os colégios Kennedy, Americano e Paulista
1893 - Altera seu nome para José Bento. Freqüenta o Colégio São João Evangelista
1894 - Ganha e usa (envergonhadíssimo) sua primeira calça comprida.
1895 - Em dezembro, vai para São Paulo, onde em janeiro prestará exames para o ingresso no curso preparatório.
  1896 - Reprovado, regressa a Taubaté e ao Colégio Paulista. Durante o ano letivo colabora no jornalzinho estudantil O Guarani, coleciona textos que o interessam e lê muito. Em dezembro é aprovado nos exames que presta.
  1897 - Transfere-se para São Paulo, interno (por três anos) no Instituto Ciências e Letras.
  1898 - Em 13 de julho morre seu pai. No Instituto Ciência e Letras participa pela primeira vez das sessões do Grêmio Literário de Azevedo.
   1899 - Em 22 de junho morre sua mãe.
   1900 - Ingressa na Faculdade de Direito de São Paulo. Com os colegas de turma, funda uma Acadêmica, em cuja sessão inaugural faz um discurso intitulado Ontem e hoje.
1902 - É eleito presidente da Arcádia Acadêmica. Colabora com artigos sobre teatro no jornal Onze de Agosto.


1903 - Forma-se o grupo O Cenáculo, que reúne Monteiro Lobato, Ricardo Gonçalves, Cândido Negreiros, Raul de Freitas, Godofredo Rangel, Tito Lívio Brasil, Lino Moreira, José Antonio Nogueira.
1904 - Formado, Monteiro Lobato regressa a Taubaté. Vencedor de um concurso de contos, o texto Gens ennuyeux é publicado no jornal Onze de Agosto.
1905 - De Taubaté, Lobato queixa-se de vida interiorana. Acalenta planos de fundar uma fábrica de geléias em sociedade com um amigo.
1906 - Firma namoro com Maria Pureza da Natividade. Ocupa, interinamente, a promotoria de Taubaté.
1907 - Assume a promotoria de Areias.
1908 - Em 28 de março, casa-se com Maria Pureza.
1909 - Em março, Nasce Marta, primogênita do casal. Insatisfeito com a pacatez de Areias, planeja abrir uma venda.


1910 - Em maio, nasce Edgar, seu segundo filho. Associa-se a um negócio de estradas de ferro.
1911 - Herda a fazenda Buquira, para onde se muda. Dedica-se à modernização da lavoura e da criação. Abre um externato em Taubaté, que confia ao cunhado.
1912 - Em 26 de maio, nasce Guilherme, seu terceiro filho.
1913 - Insatisfeito com a vida na fazenda, planeja, com Ricardo Gonçalves, explorar comercialmente o Viaduto do Chá.
1914 - Em 12 de novembro, O Estado de São Paulo publica o artigo "Velha praça". Em 23 de dezembro, o mesmo jornal publica "Urupês".
    1916 - Na vila de Buquira, envolve-se com a política, mas logo se desencanta. Em fevereiro nasce Ruth, sua última filha. Inícia colaboração na Revista do Brasil, recém-fundada.
   1917 - Vende a fazenda. Funda, em Caçapava, a revista Paraíba. Transfere-se com a família para São Paulo. Organiza para O Estado de São Paulo uma pesquisa sobre o saci. Em 20 de dezembro, publica crítica desfavorável à exposição de pintura de Anita Malfatti.
 1918 - Em maio, compra a Revista do Brasil. Em julho, publica com retumbante sucesso o livro "Urupês". Funda a editora Monteiro Lobato Cia. Publica, com o título O problema vital, um conjunto de artigos sobre saúde pública.
  1919 - Rui Barbosa, em campanha eleitoral, evoca a figura do Jeca Tatu, reacendendo a velha polêmica.
   1920 - O conto "Os faroleiros" serve de argumento para um filme de Antonio Leite e Miguel Milani.
1921 - Lançamento de Narizinho arrebitado, com anúncios na imprensa e distribuição de exemplares gratuitos para escolas, num total de 500 doações.


1922 - Inscreve-se para uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas desiste.
1924 - Incorpora gráfica moderníssima, à sua editora.
1925 - A editora de Monteiro Lobato vai à falência. Em sociedade com Octales Marconde, funda a Companhia Editora Nacional. Transfere-se para o Rio de Janeiro.
1926 - Concorre a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, e é derrotado. Em carta ao recém-empossado Washington Luís, defende os interresses da indústria editorial. Publica em folhetim O presidente negro.
1927 - É nomeado adido comercial brasileiro em Nova Iorque, para onde se muda. Planeja a fundação da Tupy Publishing Company.
1928 - Entusiasmado com os Estados Unidos, visita em Detroit a Ford e a General Motors. Organiza uma empresa brasileira para produzir aço pelo processo Smith.
1929 - Joga na Bolsa de Nova Iorque e perde tudo o que tem.
1930 - Para cobrir suas perdas com o crack da Bolsa, vende suas ações da Companhia Editora Nacional.
1931 - Retornando dos EUA, funda a Companhia de Petróleo do Brasil. Organiza a publicação de várias histórias infantis no volume Reinações de Narizinho. Por alguns anos, seu tempo é integralmente dedicado à campanha pelo petróleo, e sua sobrevivência é garantida pela publicação de histórias infantís e tradução de livros.




1934 - Sua História do mundo para crianças começa a sofrer crítica e censura da Igreja.
1936 - Apresentando um dossiê de sua campanha em prol do petróleo, O escândalo do petróleo esgota várias edições. Ingressa na Academia Paulista de Letras.
1937 - O governo proíbe e recolhe O escândalo do petróleo. Morre Heitor de Morais, cunhado de Monteiro Lobato, seu correspondente e grande amigo.
1938 - Cria a União Jornalistica Brasileira, empresa destinada a redigir e distribuir notícias pelos jornais.
1939 - Carta de Lobato ao ministro da Agricultura precipita a abertura de um inquérito sobre o petróleo. Em fevereiro, morre seu filho Guilherme.
1940 - Recebe ( e recusa) convite de Getúlio Vargas para dirigir um Ministério de Propaganda. Em carta a Vargas, faz severas críticas à política brasileira de minérios. O teor da carta é tido como subversivo e desrespeitoso.
1941 - Em março é preso pelo Estado Novo, permanecendo detido até junho.
1942 - Em fevereiro, morre seu filho Edgar.


1943 - Comemoração dos 25 anos da publicação de Urupês.
1944 - Recusa indicação para a Academia Brasileira de Letras.
1945 - Em setembro, opera-se de um cisto no pulmão. Recebe e recusa convite para integrar a bancada de candidatos do Partido Comunista Brasileiro. Envia saudação a Luís Carlos Prestes, a ser lida no comício do Pacaembu. Integra a delegação de escritores paulistas ao I Congresso Brasileiro de Escritores.
1946 - Muda-se para a Argentina. É contrário à fundação de um Museu de Arte Moderna em São Paulo. Prepara para a Editora Brasiliense, a edição de suas obras completas.
1947 - Regressa ao Brasil.
1948 - Em abril, um primeiro espasmo vascular cerebral afeta a motricidade de Monteiro Lobato. Em 5 de julho, morre de madrugada, seu corpo é velado na Biblioteca Municipal, e o sepultamento realiza-se no Cemitério da Consolação.



Obra

Literatura Geral

A Barca de Gleyre


Este livro de Monteiro Lobato, só publicado quando já não era um escritor militante, é por muitos títulos o mais representativo do escritor, não de sua obra.
Trata-se da correspondência ativa de quarenta anos com o amigo Godofredo Rangel.
 Mário de Andrade, a seu lado, parece ter sido o único escritor que levou a sério sua correspondência, mas não cobre o mesmo  tempo de Monteiro Lobato.
Raríssimo caso no Brasil, senão único, de um relicário de lembranças tão profundas no tempo, que nos mostram toda uma trajetória de pensamento,   dos arroubos da juventude ao desencanto da velhice.


A correspondência registra suas idéias sobre os principais fatos e idéias da República, dando nós destaque à literatura, no longo interregno que vai de Rodrigues Alves a quase o final do Estado Novo.
Em 1903, quando a correspondência começa, Lobato tinha 21 anos e estava na faculdade de Direito. Mas não é de se esquecer que, criança, havia conhecido e até conversado com o Imperador Pedro II na casa de seu avô, o Visconde de Tremembé.
Essa outra cultura, de uma era já então histórica, ilumina o seu presente, traçando um arco de valores que perfura toda a República Velha e termina, apenas no caso de A barca de Gleyre, no zênite da ditadura de Getúlio Vargas.
De volta ao Sítio, a avó questiona algumas mudanças, aprovando outras, como a do leite que apita quando está no fogo. Após a reforma, um novo episódio reúne Emília e o Visconde de Sabugosa para discutir o funcionamento do corpo humano. Ao tocarem nas glândulas do crescimento dos animais, criam uma pulga gigante que assusta toda a vizinhança.


A Onda Verde

Obra emblemática sobre o café paulista, embora seja composta de textos variados.
Nos artigos sobre a cultura cafeeira, que avança em "ondas verdes" sem se fixar e se deter, aparece o grileiro como elemento de progresso como o foi outrora o bandeirante, ética à parte. Está é focalizada com garra no artigo Homo sapiens.

O esnobismo da elite brasileira é alvejado em Os livros fundamentais. Outro artigo principal, A arte americana, abre uma janela para o papel renovador do cinema na cultura moderna, importância que Lobato foi dos primeiros ou o primeiro dos nossos escritores a influir.


América




Trata-se do relato de sua estada de quatro anos em Nova Iorque (1927-1931), como Adido Comercial do Brasil.
Ali desenvolveu a consciência de progresso, vinculando sua idéia de modernidade ao desenvolvimento econômico, à técnica e à ciência. Foi para lá como Adido Cultural nomeado por Washington Luís, provavelmente a instâncias de seu chefe de gabinete, Alarico Silveira, amigo de Lobato: este havia voltado suas inquietas baterias contra as Forças Armadas, que lhe pareciam um item inútil e onereso do orçamento. 

Os artigos alertando o presidente eleito da República despertaram furor entre os militares, principalmente na Marinha. Os amigos de Lobato uma agressão ou algo pior e preocupavam-se em defendê-lo dele mesmo, sendo sua remoção para o exterior uma solução a calhar.
A correspondência registra suas idéias sobre os principais fatos e idéias da República, dando nós destaque à literatura, no longo interregno que vai de Rodrigues Alves a quase o final do Estado Novo.
O fato é que ficou por quatro anos em Nova Iorque, onde desenvolveu intensa atividade, que julgava pertinente a seu cargo. É a época em que junta a teoria de Henry Ford, sua velha conhecida, à prática do capitalismo norte-americano. Presencia os avanços técnicos e sociais que passarão a
norteá-lo e cujos os segredos que trazer para o Brasil.
Nesse sentido, o livro é mais uma propaganda que simples lembranças. Logo que chega de volta, em janeiro de 1931, desmobilizado pela revolução que mudou a república, põe mãos à obra: América fala aos brasileiros da igualdade entre sexos, dos fundamentos econômicos indispensáveis a qualquer progresso, material ou cultural, do carvão, do ferro, do petróleo, dos transportes no desenvolvimento de uma nação, desse mesmo desenvolvimento como fator de unidade nacional englobando regiões antes inconformes e rivais. Também mostra o lado negativo: o racismo, as crises do capitalismo, expressas no craque da Bolsa que atingiu a ele próprio, o materialismo desenfreado resultante da riqueza. O próprio modernismo como expressão de uma era nova em país novo, ele parece senti-lo mais lá do que aqui, embora limitado ao campo arquitetônico e cinematográfico.
Completa este volume um escrito anterior, a "Carta aberta a Carlos de Campos", de 1924, intitulada editorialmente O voto secreto. Precede tudo uma Advertência dos editores.

Cidades Mortas



Para muitos esse é o maior livro de contos de Monteiro Lobato, superior a Urupês e Negrinha. Na 1ª edição de 1919, trazia o adequado subtítulo "Contos e Impressões". Pois é mais de impressões que o livro trata, principalmente antes das alterações de 1946, feitas para a Obra Completa.
Lobato resolvera aproveitar a onda de sucesso de Urupês publicando mais estórias, mas a atividade de editor e diretor da Revista do Brasil não lhe dava tempo para produzir ficção. Retirou, então das gavetas seus trabalhos do tempo de estudante, quando escrevia nos jornaizinhos "O Minarete", de Pindamonhangaba, e "O Povo", de Caçapava.

São eles que formam a edição príncipe, acrescidos aqui de outros trabalhos apenas anteriores à sua partida para os Estados Unidos. Alguns dos que estão aqui pertenceram ao livro nunca reeditado "O macaco que se fez homem".
O encanto maior de Cidades Mortas reside na descrição de um tempo que o escritor conheceu bem, um tempo onde não havia nenhuma das comodidades modernas, como o rádio e o automóvel, e a população de Oblivion ( cidadezinha que ele criou no livro) tem seus pontos de referência nacionais na cotação do café e na política dos coronéis.

Ferro e o Voto Secreto



Publicado na volta de Lobato dos Estados Unidos, em janeiro de 1931, quando realizou a tentativa de produzir ferro-esponja, uma alternativa bem marcada do processo do alto-forno.
Esse empreeendimento de Lobato precedeu o do petróleo mas, durante os dois primeiros anos, andou emparelhado com ele. Publicado junto com O escândalo do petróleo, a cujas páginas se segue - São artigos extraídos de O Estado de São Paulo, do mesmo ano.







Ideias de Jeca Tatu



Reunião da melhor parte da crítica de arte de Monteiro Lobato, além de outros trabalhos aparentados.
São textos publicados em O Estado de São Paulo entre 1917 e 1919.
Os títulos que figuram a partir de Arte Francesa de exportação, foram anexados nas edições posteriores, mas guardam semelhança de datas e local de publicação.














Miscelânea




Pertence à mesma edição que Mundo da Lua, seguindo-se-lhe. Série de artigos variados, como diz o título, de lembranças afetivas à visão econômica sobre a moeda instável, das viagens ao Triângulo Mineiro e Cuiabá ao desabafo opressivo de um diário no dia de Pearl Harbour.












Mr Slang e o Brasil


Edição conjunta com Problema Vital, artigos de 1917 publicados em 1918. Este Mr. Slang e o Brasil foi escrito entre o final de 1926 e o primeiro semestre de 1927, antes de embarcar para os Estados Unidos, sob forma de rodapés para "O Jornal", de Assis Chateaubriand.
É a apreciação de Lobato sobre o governo de Artur Bernardes, que se encerrava, de maus auspícios para ele. Washington Luís, como Lobato representante da elite paulista, já estava eleito para o quadriênio que começaria em janeiro de 1927 e não terminaria,  primeira parte desta edição.

É um dos três livros mais políticos de Monteiro Lobato, no sentido de estabelecer um decidido ideário liberal e, portanto, anti-estatal. Tanto que ao tentar descrever para o bugre o paraíso encontrado na América, e que pretende transferir para cá, novamente recorre a Mr. Slang para falar por sua boca.


Na Antevéspera



A primeira edição reunia artigos de 1925-1927, publicados em A Manhã e O Jornal, sobre o crepúsculo do governo Arthur Bernardes e primeiros passos de Washington Luís.
Para está edição foram acresentados artigos anteriores e posteriores, sem ordem lógica, apenas para preencher espaços. 

Escrito já depois da Revolução de 30, cedo para ver-lhe todos os defeitos, tarde para continuar acreditando na redenção que havia prometido trazer aos costumes políticos do país, o escritor termina com a mais nítida expressão de desalento, pois não vê nada para que se voltar,  depois que "a grande coisa para a qual sempre apelávamos veio mas falhou". 

Negrinha



O título do livro é também o do primeiro dos seis contos que Lobato selecionou para a experiência editorial de "Negrinha", um pioneirismo de "meio livro por meio preço".
 Mundo da Lua
Mundo da Lua foi publicado em 1923 para aproveitar o sucesso de público do autor. Lobato acreditava que o livro só interessaria a ele mesmo, a Rangel e uns poucos do tempo de Hélio Bruma e do Minarete.
Ele mesmo explica, na justificação inicial, que a idéia do livro nasceu do encontro casual de papéis em que havia registrado impressões do tempo de estudante, a maioria de 1902. 

Portanto, embora a edição seja de 1923, é preciso ter em mente que as idéias são de vinte anos antes, quando era "um contemplativo! Um pateta que se por aqui ficasse acabaria de cabeleira, a sonhar mundices da lua".


O Escândalo do Petróleo

Livro originalmente editado em 1936, contendo as informações de Monteiro Lobato sobre a luta que empreendeu pelo petróleo brasileiro. Vai da criação da Cia. Petróleo do Brasil, em 1931, até a Comissão de Inquérito que conseguiu fazer convocar, numa última tentativa para reverter a política de sabotagem do Ministério da Agricultura, ao qual estavam afetos os problemas do subsolo.

O livro faz parte da luta, pois a última batalha será a prisão e condenação do escritor, cinco anos depois, em 1941.

A primeira vez que Monteiro Lobato se confessa vencido nessa guerra é em 1946, quando organiza suas Obras Completas e nelas inclui este livro, com vários acréscimos. Alguns são cartas e artigos de data anterior ao livro, mas só anexados após a queda do Estado Novo.

Durante a vigência daquele redime de exceção, O escândalo do petróleo, esteve proibido. Antes dele, em apenas um ano saíram quatro edições. Esta quinta, aumentada, foi organizada para integrar as Obras Completas. Traz Ferro como pertinente apêndice, já que a batalha pelas jazidas de carvão e a produção inovadora de ferro-esponja antecede em alguns anos a do petróleo.

Ao longo da documentação de O escândalo do petróleo, toda de grande importância para o estudioso do desenvolvimento sócio-econômico nacional, vai-se notar certa confusão de datas, devido à memória falha de Lobato, como aponta a biografia de Edgard Cavalheiro, bem como a  interferências editoriais. Isso não traz maiores problemas, mas coloca a necessidade de se adotar uma data-base para a guerra do petróleo, travada entre Monteiro Lobato e o governo de Getúlio Vargas, nas suas múltiplas evoluções, de revolucionário a ditatorial. A guerra propriamente dita durou doze anos, de 1930 a 1941. Se se quiser considerar as preliminares, terá começado em 1927, quando Lobato era Adido Comercial em Nova Iorque e lá descobriu a importância de petróleo e, primacialmente, do ferro para nossa economia.

Era presidente Wasghinton Luís, tendo como chefe de gabinete um grande amigo de Lobato, Alarico Silveira. O escritor estabeleceu planos otimistas que, provavelmente, dependeriam mais que de amizade para resultar, pois a questão mexia fundo na economia e na posição internacional do Brasil.  De qualquer modo, sobrevinda a Revolução de 1930, Lobato não pôde contar com ouvidos pacientes no governo. Que fizeram enorme falta a esse dínamo de vontade e impaciência na condução de gestões nas quais, de não tinha a menor chance, talvez pudesse ter escapado da consequencia pior: a depressão a que a falta de objetividade, e de visão realista sobre política e políticos,  antecipadamente o condenou. O livro, antes mesmo de aumentado, é uma colagem que termina à página 117, com o depoimento de Lobato na Comissão de Inquérito, em 1936.

O Presidente Negro


O livro tem duas vertentes essenciais para o estudioso. A primeira é a de seu significado como ideologia política, formando com América e Mr. Slang e o Brasil, a tríade maior do ideário progressista do escritor. 

A segunda é a da estratégia de mercado, onde Monteiro Lobato mais uma vez não teve sorte. Escreveu e publicou O Presidente Negro  tendo em vista o potencial livreiro norte-americano, no qual pretendia infiltrar-se com uma editora. O fiasco editorial e o interesse inesperado por outros mercados mais pesados (ferro e petróleo) desviaram de vez sua atenção do assunto.

Saci Pererê



Compreende os artigos publicados por Monteiro Lobato no "Estadinho" em 1917, relativos ao inquérito de opinião sobre a figura do Saci.
No livro, Lobato comparece com abertura, conclusão, considerações, mas identifica-se apenas pelas iniciais M.L., ponderando que é um livro seu mas escrito com material dos outros.










Prefácios e Entrevistas



Coletânea das matérias de que fala o título, com prefácio de Marina de Andrada Procópio de Carvalho, enfatizando a literatura infantil.
Lobato fazia prefácios com grande generosidade, quase que a todos que o solicitavam, até que foi alertado para o desprestígio que foi a atividade, quase filantrópica, podia trazer para sua reputação literária.


Mas há os lapidadores, muitos dos quais reconhecidos aqui, como os prefácios à "Contas de Capia" e ao programa de formatura de uma Escola de Comércio.
As entrevistas, geralmente respondidas por escrito, são do período da ditadura do Estado Novo, algumas de logo após sua queda, quando Lobato era das vozes mais requisitadas e pouco divulgada, por imposição da censura ou ods patrões de jornais.
Muito reveladoras, apesar de uma outra repetição, inevitável naquela fase em que era muito acionado. Nesta fase, o ano de 1943 é de grande atividade, em virtude da comemoração do Jubileu de Urupês, promovido por admiradores como Carlos Sussekind de Mendonça e Artur Neves.

Problema Vital


Edição conjunta com Mr. Slang e o Brasil.
A primeira edição constituiu-se dos artigos publicados no O Estado de São Paulo, desde 1918, sobre a campanha sanitarista empreendida pelo governo paulista.
Lobato acompanhou-a, observando o esforço de Artur Neiva e outros descendentes espírituais de Manguinhos. O saldo foi desalienar-se a respeito do Jeca Tatu, enxergando-o então como alguém que "não é assim, está assim".
Data daí a defesa decidida que Lobato passou a fazer do homem do interior, o brasileiro autêntico, opinião compartilhada com Euclides da Cunha.
A 1ª traz em frontispício o seguinte esclarecimento : "Artigos publicados no "O Estado de São Paulo" e enfeixados em volume por decisão da Sociedade de Eugenia de São Paulo e da Liga Pro-Saneamento do Brasil". Os dois trabalhos finais foram escritos, respectivamente, para a Revista do Brasil e Almanaque do Biotônico Fontoura, sendo acrescentados, no livro, às reportagens de "O Estado".

Urupês



Livro de contos que é o maior êxito de Monteiro Lobato em toda a sua vida, e um dos principais feitos editoriais da história livreira do Brasil.
Não só pelo que vendeu, mas pelas implicações derivadas: Jeca Tatu como símbolo desglamuriado do brasileiro, a editora Monteiro Lobato & Cia., seguida pela Compania Editora Nacional, a ampliação dos pontos de venda nacionais de livros de cerca de cinquenta para algo como mil e duzentas  lojas, etc.

 Lobato havia escrito essa dúzia de contos em Taubaté e na Fazenda Buquira, entre 1914 e 1917, pretendendo editá-los por conta da própria com o infeliz título de "Doze mortes trágicas". Artur Neves o convenceu a mudar o nome do livro, e assim nasceu Urupês, que não faz parte daquele rol e - do mesmo modo que Velha Praga - nem é conto.
O escritor trouxe para o volume o por jornalístico de 1914, alegando que deixar de fora Velha Praga e Urupês seria como separar os pais de suas crias. A gênese desses contos históricos encontra-se traçada quase dia a dia em A Barca de Gleyre

Literatura Infantil



Reinações de Narizinho


Livro que dá início à saga do Sítio do Picapau Amarelo, no qual Narizinho conhece o príncipe Escamado, do Reino das Águas Claras, e Dona Aranha faz para ela um vestido tão bonito para a festa do casamento que o espelho racha de admiração.

Ao descrever a festa, a ternura de Monteiro Lobato pela palavra se revela: "E canários cantando e beija flores beijando flores, e camarões camaronando, e caranguejos caranguejando, tudo que é pequenino e não morde, pequeninando e não mordendo".

É também nesse livro que Emília começa a falar por artes do Doutor Caramujo que "tem umas pílulas que curam todas as doenças, exceto quando o doente morre".
Agora, Emília pode deixar que toda a sua "fala recolhida" se expanda até encontrar a sua melhor expressão, quando acontece o seu impagável casamento com o Marquês de Rabicó e o aparecimento do Visconde de Sabugosa.

Cada capítulo, intitulado e subdividido em partes, pode ser considerado uma história com começo, meio e fim, o que permite a interrupção da leitura.
Sem dúvida, o Sítio é um lugar privilegiado, onde todas as crianças do Brasil mereciam passar as férias.



Viagem ao Céu


Emília, Pedrinho, Narizinho e o Burro Falante fazem uma viagem à Lua, usando o pó de pirlimpimpim e levando, também, a Tia Nastácia, que, desprevenida, cheira o pó pensando ser rapé. Lá, conversam com São Jorge, antigo capadócio dos tempos do Império Romano, a quem Pedrinho dá lições de Geografia, atualizando os conhecimentos do santo. Dali, vão a Marte e, por distração, acabam na Via Láctea, onde Emília se interessa pelas estrelas e Pedrinho se apaixona pelos cometas.

Aliás, a turma passeia na cauda do cometa Halley que se choca com outro, deixando um anjinho de asa quebrada, mais tarde levado por Emília para o Sítio. No meio dessa confusão, Tia Nastácia está na Lua fritando bolinhos para o dragão de São Jorge.
A turma vai ter de buscá-la, mais cedo ou mais tarde.
O Saci



Dois joões-de-barro eram "tão amigos que até para cantar, cantavam a duas mãos.(...) Certo ano, o casal resolveu construir um ninho novo em outro galho da palmeira e durante quinze dias o divertimento dos meninos foi acompanhar de longe a construção daquele trabalho".
Mas o que Pedrinho queria mesmo era caçar um saci, e não é que queria tanto que acabou conseguindo? Com a ajuda, é claro, do Tio Barnabé, que garantia:
"Pois, seu Pedrinho, saci é uma coisa que eu juro que 'exéste'. Gente da cidade não acredita, mas 'exéste'".

Finalmente, acompanhado pelo saci capturado, Pedrinho transgredindo as ordens de Dona Benta, parte para a mata virgem dos seus sonhos.
A descrição do Sítio, da floresta, do sacizeiro e "do sacizinho do tamanho de um camundongo, já de pitinho aceso na boca e carapucinha na cabeça", é de uma "galanteza" encantadora.
Pedrinho "regalou-se de contemplar o sacizete adormecido e ali ficará horas se o saci não o puxasse pela manga".


As Caçadas de Pedrinho


Pedrinho, auxiliado pelos moradores do Sítio do Picapau Amarelo, consegue matar uma onça e, a partir daí, seu grande sonho é caçar um rinoceronte.
Pois não é que um rinoceronte foge de um circo no Rio de Janeiro e escolhe a mata virgem do Sítio de Dona Benta para terminar seus dias em paz? Por estar sendo procurado em todo o Brasil, o governo cria o Departamento Nacional de Caça ao Rinoceronte, com um chefe, doze auxiliares e um grande número de datilógrafas
e "agregados".

Aqui Monteiro Lobato exerce com toda a graça e eficiência seu humor, ao descrever todas as peripécias que esse grupo de pessoas realiza para não correr o risco de realmente caçar o rinoceronte e ficar desempregado, em conseqüência disso.

Dessa forma, o rinoceronte passa a viver tranquilamente no Sítio, como bichinho de estimação de Emília e amigo de todos os habitantes desse local, onde todos nós, adultos e crianças, um dia também já habitamos.

A Reforma da Natureza


Enquanto Dona Benta é chamada pelos estadistas do mundo para discutir o seu governo no Sítio do Picapau Amarelo, Emília promove uma drástica reforma na natureza, auxiliada por sua amiga rã.
É assim que Emília põe abóbora em árvores e jabuticabas nos pés, deixa laranjas sem casca nos galhos e muda o pulo das pulgas, oferecendo os melhores e mais engraçados momentos da narrativa.
Ao mesmo tempo em que Dona Benta conserta a Europa com todo o seu bom senso, Emília cria até um passarinhoninho, um pássaro que tem as costas côncavas em forma de ninho.

De volta ao Sítio, a avó questiona algumas mudanças, aprovando outras, como a do leite que apita quando está no fogo. Após a reforma, um novo episódio reúne Emília e o Visconde de Sabugosa para discutir o funcionamento do corpo humano. Ao tocarem nas glândulas do crescimento dos animais, criam uma pulga gigante que assusta toda a vizinhança.


Memórias de Emília



Emília põe o Visconde de Sabugosa para escrever suas memórias e, como ela é muito ocupada, sai com a sua canastrinha, enquanto ele redige o episódio do anjinho da asa quebrada, o famoso "flor das alturas", em sua estadia no Sítio.

Ao retornar, abelhuda como é, Emília faz modificações na escrita do Visconde. Com raiva e rebeldia, ele escreve, então, um episódio inteiro com acontecimentos comprometedores sobre a boneca, que o aceita resignada e de boa vontade, para a surpresa do sabugo. Depois, Emília inventa uma história hilariante sobre o anjinho que retorna ao céu, deixando milhões de crianças brasileiras e inglesas chorando desconsoladas.

Assim, ela vai contando suas memórias bem do seu jeito todo especial de ser, dizendo:
"eu conto o que houve e o que devia haver. São memórias fantásticas".
Emília se dispersa, larga o Visconde escrevendo sozinho outra vez, percebe que ele a está sabotando e retorna as rédeas da escrita. Emília fala, ainda, da injustiça - a maior dor que sente no coração, apontando Dom Quixote como herói e vítima dos injustiçados - , do seu amor à natureza e da beleza das frutas amadurecendo. Também expressa sua admiração pelos personagens do Sítio: Dona Benta, por sua sabedoria e paciência, Tia Nastácia, pelo conhecimento das coisas práticas da vida.
Ao terminar suas, meio verdadeiras, meio inventadas, memórias, Emília se despede mostrando ao leitor que a vida é realidade e sonho.


A Chave do Tamanho



Na tentativa de acabar com a guerra que já durava muito tempo, Emília toma uma pitada do super pó que o Visconde fabrica, com a intenção de chegar à Casa das Chaves e fechar a chave da guerra.
Faz tudo direitinho, só que aplicando o método experimental de mexer nas chaves, uma a uma, acaba por mexer na chave do tamanho.
Vê-se, assim, reduzida a um centímetro de altura. Percebe logo que "a situação era tão nova que as suas velhas idéias não serviam mais".

O leitor acompanhará com interesse todas as adaptações que Emília e algumas pessoas mais espertas fazem para sobreviver num mundo, para eles, agora, imenso, como também o triste fim daqueles mais arraigados a antigos hábitos.

O Picapau Amarelo



O Sítio do Picapau Amarelo foi se tornando tão famoso no mundo inteiro que o País das Maravilhas acaba tomando conhecimento dele.
É assim que Dona Benta, um belo dia, recebe uma cartinha do Pequeno Polegar, escrita numa pétala de rosa com a ponta de um espinho.
Para ler semelhante carta, só mesmo os penetrantes olhos de Emília.
Na carta, um pedido que a todos entusiasma: os habitantes do mundo da fábula resolvem mudar-se definitivamente para o Sïtio. Como para Dona Benta dinheiro não é problema, depois da descoberta de petróleo no Sítio, ela compra as terras vizinhas a fim de melhor acomodar tão ilustres visitantes, que não se fazem de rogados.
Constroem castelos e mais castelos, fazem aparecer mares e sereias e, daí para a frente, tudo pode acontecer no Sítio do Picapau Amarelo.
Dom Quixote, o suco dos sucos, na opinião de Emília, e seu fiel escudeiro Sancho Pança ficam hospedados temporariamente na casa de Dona, enlouquecendo a Nastácia, que não vence alimentar a famosa pança do Sancho.
Uma felicidade sem fim invade as terras de Dona Benta e, certamente, invadirá os corações dos felizardos leitores que se acercarem de mais este livro, que a genialidade generosa que Monteiro Lobato produziu.

 O Poço do Visconde


O Visconde de Sabugosa põe-se a estudar Geologia e, segundo Emília, "já entende de terra mais que tatu". Pedrinho, revoltado porque o petróleo nunca é encontrado no Brasil, achou ser chegada a hora de abrir um formidável poço no pasto do Sítio, pensando no assunto com os olhos nas abobrinhas que desenhavam "riscos de velocidade" no céu azul.
Neste livro, Monteiro Lobato reflete não só a questão da Ciência e da Tecnologia, mas também sobre a ética social e humana da exploração e utilização do petróleo.
Graças às instruções do Visconde, jorra petróleo no Sítio do Picapau Amarelo, mas não nos esqueçamos também no método sugerido por Emília, que consiste no seguinte:

"- Amarra-se um tatu pela cauda e pendura-se ele de cabeça para baixo no ponto onde queremos abrir o poço. Na fúria de fugir, o tatu vai furando, furando até chegar no petróleo.
- E ai ?
- Aí espirra e a gente fica sabendo que deu no petróleo".
Nesse momento, Emília foi tocada para fora da varanda e as negociações entre Pedrinho e Visconde puderam prosseguir.

O Minotauro



Enquanto Dona Benta e Narizinho visitam a Grécia de Péricles e Fídias, discutindo os avanços da humanidade nas ciências e nas artes, Pedrinho, Emília e o Visconde de Sabugosa se embrenham pelo Olimpo, vivendo aventuras inéditas com deuses e semideuses. Sua missão é resgatar Tia Nastácia, que ficou presa no labirinto, fritando seus famosos bolinhos para o minotauro. A molecada consulta o oráculo de Delfos e, decifrando sua mensagem, consegue libertar a prisioneira do minotauro, que, a essa altura dos acontecimentos, está balofo de tanto comer bolinhos. Por fim, todos se reencontram em um festejo grego.O texto é marcado por elementos da cultura grega, sendo que os episódios vividos no Olimpo se destacam pela inventividade e graça. O livro prevê um leitor com conhecimentos anteriores de mitologia e cultura gregas. 

Os Doze Trabalhos de Hércules


Esta narrativa é um dos melhores momentos da obra infanto-juvenil do escritor.
Nesta história somos envolvidos totalmente pela mitologia grega. Hércules, o protagonista, recebe a impossível missão de vencer doze desafios criados pelo rei Euristeu e por Juno no Olimpo.

Como Hércules não prima pela inteligência, e sim pela força física, logo adota o Visconde de Sabugosa como seu escudeiro, Pedrinho como oficial e Emília como sua conselheira. 
E assim, em companhia desses brilhantes personagens, Hércules consegue cumprir os doze trabalhos, que vão desde matar as hidras de Lerna até enfrentar um javali selvagem no monte Erimanto.

Emília, a todo momento, revela sua admiração pelos gregos, que enxergam o mundo sob o prisma da magia, e que Lobato consegue reconstruir com maestria e bom humor.
Diz a esprevitada boneca: "gosto dos gregos porque em tudo botam uma historinha. Para o Visconde e os sábios modernos o eco é a tal reflexão dos sons. Para os gregos é a voz da ninfa Eco transformada em pedra, cem vezes mais lindo".
Vencidos os doze trabalhos, o leitor conclui junto com o autor que a força unida à inteligência e à esperteza realizam aqueles trabalhos com muito mais facilidade. É claro que a "união faz a força", porque o Hércules de Lobato conta com verdadeiros amigos que tornam seu destino mais leve de ser enfrentado. Inesquecível opção de leitura para crianças.

Esta obra foi inicialmente, publicada, em 1944, pela Editora Brasiliense em doze pequenos volumes , cada um contendo o relato de um dos doze trabalhos do herói grego Hércules, de acordo com a narração de ML.
São os seguintes os trabalhos, na ordem de narrativa:
O Leão da Neméia A Hidra de Lerna A Corça de Pés de Bronze O Javali de Erimanto As Cavalariças de Águias As Aves do Lago Estinfale O Touro de Creta Os Cavalos de Diomedes O Cinto de Hipolita Os Bois de Gerião O Pomo das Hespérides Hércules e Cérbero.


Emília no País da Gramática


Emília, Pedrinho, Narizinho e o Visconde, todos no lombo do rinoceronte Quindim, rumam para o País da Gramática.
O leitor pode se perguntar: por que Quindim saberia onde fica esse País ?
Porque ele havia, sozinho, engolido uma gramática inteira, tornando-se, desde então, um sábio nessas questões.
Dessa forma, pouco a pouco, os mecanismos de dinamização da língua vão se revelando para o leitor. Emília, muito da curiosa, conversa com a senhora Etimologia, uma velhinha muito sabida que fala sobre a formação das palavras, deixando a boneca fascinada por esse universo.

Assim, a turma visita cidades da família de Portugália, Anglopólis e de palavras latinas e gregas.
O Visconde de Sabugosa, inclusive, rouba um ditongo para guardar de lembrança do passeio, mas Emília, muito esperta, toma-o para si. Enfim, eis uma excelente oportunidade para mergulhar as crianças, com idade em torno de dez anos, no universo da gramática de forma inteligente e prazerosa. 


Aritmética da Emília

Depois do passeio ao País da Gramática, o Visconde de Sabugosa acredita ser sua obrigação como sábio inventar uma viagem - e das mais científicas - para a turma do Sítio. Surge, assim a idéia de uma visita ao País da Matemática, recebida com entusiasmo por todos.
Um circo é montado no próprio Sítio para que os habitantes daquele País se apresentem: os números mostram suas acrobacias - a subtração, a adição, a multiplicação e a divisão - ; chegam também os sinais usados na Aritmética, as frações e as medidas, entre outros.

De um assunto considerado árido e difícil pela maioria das crianças, Monteiro Lobato cria uma história interessante, capaz de ensinar sem didatismo exagerado. Ao contrário, com sua inventividade, faz um livro inteligente e divertido sobre a Aritmética.


História do mundo para Crianças


Monteiro Lobato - ou Dona Benta, "em quem ama disfarçar-se"- virou professor para contar a história do mundo para as crianças.
A leitura minuciosa do índice auxilia a compreensão da dimensão desta obra, em que o autor começa explicando a evolução do homem: Répteis - Pássaros / Pássaros-Mamíferos / Mamíferos-Macacos / Macacos-Gente como nós".
E concluiu:
"- Sabemos o que veio vindo desde o começo do mundo até nós.
Mas quem poderá prever o que virá depois de nós?
- Eu prevejo, gritou Emília lá do seu caminho
- Depois dos homens, virão as bonecas. Eu já sou uma amostra do que está para vir..."
Décadas depois, os robôs foram inventados só para provar que a Emília, mais uma vez tinha razão.
Primeiro dos livros "didáticos" ou "paradidáticos" de ML.


História das Invenções



Monteiro Lobato registrou sua paixão pela modernidade e pelo conhecimento científico em vários livros.
Aqui, mais uma vez, Dona Benta aparece como professora privilegiada que, mesmo morando em um sítio, fala várias línguas e mantém-se atualizada, recebendo livros sobre os mais variados assuntos.
E assim, no "bolorento mês de fevereiro", com tanta chuva que não se podia pôr a cara para fora de casa, a avó resolve ler para os meninos a História das invenções do homem,  o  fazedor  de  milagres,  do   norte-americano
Hendrik Van Loon. Mostrando as diferenças entre o modo moderno, ou científico, e o modo antigo de ver as coisas, este volume traz a evolução da humanidade, as suas conquistas e seu domínio sobre a natureza, da Pré-História até os nossos dias.

Geografia de Dona Benta


Depois que Dona Benta explicou a Lei da Gravitação, Pedrinho exclamou:
"Ora, Ora! Tão claro e simples, e eu pensei que fosse um bicho de sete cabeças. Só, só, só isso ?
- Só, meu filho. Todas as coisas da Ciência são simples quando as conhecemos.
- Sempre que a senhora explica, nós entendemos muito bem: mas quando os outros explicam, ficamos na mesma.

- É que só explico o que sei. Muitas criaturas se metem a explicar o que não sabem, e por isso ninguém se entende".
Monteiro Lobato deixa essa mensagem para a reflexão das crianças e também dos adultos, enquanto Dona Benta conta para os meninos os segredos da Geografia.



Dom Quixote das Crianças


Outra adaptação. Só que, dessa vez, a iniciativa não parte de Dona Benta. É Emilia, que gostava de mexer nos livros da biblioteca, em busca de novidades, e - muito especialmente - os da terceira e quarta prateleira, que "ela via com os olhos e lambia com a testa" - e que mais a interessavam, sobretudo uns enormes, entre os quais se encontrava a edição in-fólio do engenhoso fidalgo, no original espanhol, com as ilustrações de Gustave Doré. ML manteve-as, na primeira edição da versão infantil, mas provavelmente os problemas de qualidade de impressão - ou de direitos autorais - fizeram com que fossem, mais tarde, abandonadas. 

Para retirar os livros da prateleira alta, Emilia pede ajuda do Visconde, que acaba achatado no processo, pois os livros desabam sobre sua cabeça, numa de suas muitas "mortes". Ele será ressuscitado por Tia Nastácia, para protagonizar a próxima aventura.

Fábulas


Reúne 75 fábulas contadas por Dona Benta nos saraus que aconteciam toda noite no Sítio do Picapau Amarelo, e que se encerravam às nove horas impreterivelmente.
Ao término da cada história, os lúcidos, inteligentes e interessantes comentários do pessoal do Sítío ajudam o leitor a apreciar melhor as fábulas e compreender mais profundamente esse gênero literário, quase em desuso atualmente.
Por exemplo, depois da audição de A rã e o boi, que traz como moral da história "Quem nasce para dez réis não chega a vintém", Emília diz que absolutamente não concorda, argumentando que nasceu boneca de pano e chegou a valer muito mais do que um vintém, chegou a tostão. Narizinho a adverte para ter cuidado, porque ela também poderia estufar demais e estourar como a rã da fábula.

- E sabe o que sai de dentro de você se arrebentar ?
- Estrelas ! berrou Emília."

Hans Staden



Dona Benta narra, neste livro, as aventuras do alemão Hans Staden, que naufragou nas costas do Brasil, caindo prisioneiro do tupinambás em 1549.
Durante oito meses, o náufrago viveu os temores de ser comido pelos índios antropófagos até que, finalmente, libertou-se, voltando à Alemanha, onde escreveu a sua história.
Embora a narração de Lobato das aventuras de Staden seja mais objetiva, sem tantas intervenções dos personagens do Sítio do Picapau Amarelo, este livro torna-se envolvente por sua linguagem coloquial e pelo crescente clima de suspense. 




Histórias da Tia Nastácia



Monteiro Lobato trata do folclore através de histórias contadas por Tia Nastácia.
Explicando a palavra, "Dona Benta disse que folk quer dizer povo e lore quer dizer sabedoria, ciência. Folclore são as coisas que o povo sabe por boca, de um contar para o outro, de pais a filhos - os contos, as histórias, as anedotas, as superstições, as bobagens, a sabedoria popular etc e tal".

Assim, nos serões, ouvindo as histórias, o pessoal do Sítio faz interessantes e engraçadas observações ao final de cada uma delas.

A leitura do índice deste volume dá a ideia da dimensão da pesquisa feita por Lobato para escrevê-lo. Além disso, encantamento é para gente se inundar dele e não ficar deitando falação sobre ele.


Peter Pan 


"Mas quem era Peter Pan?
Ninguém sabia, nem a própria Dona Benta, a velha mais sabida de quantas há".
Ao notar que nem a avó sabia quem era Peter Pan, conhecido até pelo gato Félix, Emília retruca:
Pois se não sabe trate de saber. Não podemos ficar assim na ignorância. Onde já se viu uma velha de óculos de ouro ignorar o que um gato sabe? "

E, assim, a boa senhora encomenda a uma livraria de São Paulo Peter Pan and Wendy, "lindo livro em inglês, cheio de gravuras coloridas, do grande escritor britânico J. M. Barrie". Com comentários divertidos de Emília e companhia, o leitor é envolvido tanto pela história como pela narração de Dona Benta.
E, assim, a boa senhora encomenda a uma livraria de São Paulo Peter Pan and Wendy, "lindo livro em inglês, cheio de gravuras coloridas, do grande escritor britânico J. M. Barrie". Com comentários divertidos de Emília e companhia, o leitor é envolvido tanto pela história como pela narração de Dona Benta.
Antecipando-se ao seu próprio tempo, Monteiro Lobato, antropofagicamente, trabalhou elementos de diferentes literaturas, incluindo Dom Quixote, Hércules, fadas e seres da tradição européia, Mickey etc...
Neste livro, recontou a aventura de Peter Pan, respeitando sua estrutura narrativa e sua essência, porém ambientado-a no mundo moderno, ou seja, no Sítio do Picapau Amarelo.
Muitos leitores sem poder deixar de crescer como acontece na Terra-do-Nunca, desejarão preservar a fé na fantasia dos livros maravilhosos de Lobato e de outros escritores pelo mundo afora.


Histórias Diversas


Desde a década de 1920, as crianças brasileiras se encantam com as aventuras, descobertas e brincadeiras de uma animada turma, que reúne desde uma boneca de pano que virou gente a uma avó sempre pronta a ensinar e divertir. Emília e Dona Benta são apenas algumas das criações de Monteiro Lobato, mas quem já leu a obra do prestigiado autor paulista logo se lembra de outros personagens igualmente marcantes, como Pedrinho, Narizinho, Tia Nastácia e o Visconde de Sabugosa.
Mas o que eles têm de tão especial? Além de curiosos e peculiares, os personagens que vivem no Sítio do Picapau Amarelo ajudam a formar o cenário no qual Lobato insere relatos de todos os tempos – das histórias do Minotauro e de Hércules, trazidas da Grécia Antiga, às desventuras do “cavaleiro da triste figura”, Dom Quixote de La Mancha, passando por toda a riqueza folclórica brasileira, em obras sempre voltadas para o público infantojuvenil.
O livro Histórias diversas foi publicado pela primeira vez em 1947 e agora chega às livrarias em nova edição lançada pela Editora Globo. Neste volume, Lobato apresenta de relatos plenos de fantasia, como “As botas de sete léguas” e “A Rainha Mabe”, a textos que revelam uma profunda conexão com os acontecimentos da época e o futuro do planeta, como fica claro em “Reinações atômicas”. E tudo temperado pelos deliciosos comentários da turminha e pelas graciosas ilustrações de Elisabeth Teixeira.
Monteiro Lobato, escritor, jornalista, editor e empresário, é o autor infantojuvenil mais famoso do país e tem várias dezenas de títulos publicados pela Editora Globo.

Um comentário:

☾₩!ll!a₦™ disse...

Pablo, me passa o site onde você conseguiu essa imagem da Dona Benta no início da página do Monteiro Lobato. Obrigado