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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cartas de Monteiro Lobato!

Monteiro Lobato costumava receber muitas cartas de seus leitores, mirins ou não. Ele adorava descobrir o que as pessoas achavam de suas obras e o que sentiam ao ler seus textos. Costumava responder com frequência e sempre com muita atenção. Dava a todos que o campanhavam um tratamento personalizado e repleto de entusiasmo.
Confira abaixo uma carta que o Lobato enviou em 1936 a Maria Luiza, uma grande leitora do Sítio. É muito bacana ver o bom humor, a criatividade e a sensibilidade que tinha para falar com o público, principalmente, o infantil.
Sta. Maria Luiza:
Arrumando os papéis hoje, encontrei a sua cartinha azul de 11 de fevereiro e me deu vontade de lhe escrever sabendo como vai passando a minha amiguinha desconhecida e companheira de “livre pensamento”.
Tem lido muito? Aumentou a biblioteca? Aquele tempo tinha 110 volumes. E agora? Aposto que já está em 120.
Li sua cartinha lá no sítio do Picapau e a Emília disse: “Ela que venha aqui e eu tiro a prosa dela” – e como você disse que sabia alemão, a sapeca da Emília pôs-se a aprender alemão depressa para não fazer feio quando você vier. Ela já sabe dizer Como vai? Bem, obrigada, e outras coisinhas assim na língua do Barão de Munchhausen.
Emília, coitada, anda muito aborrecida, porque os livros já deram notícia de que ela estava escrevendo as Memórias da Marquesa de Rabicó e essas memórias não saem nunca. Ela é uma danadinha para falar, mas quando pega na pena fica boba e não sai nada. Eu desconfio que quem vai escrever as memórias dela é o visconde – e depois, está claro que ela as assina com o maior caradurismo do mundo, como fez com a aritmética.
Este ano deu muita laranja lá, sobretudo cravo, e eles têm se regalado. Até o Quindim está gordo, de tanto mascar laranjas – esse com casca e tudo.
Rabicó anda planejando qualquer coisa. Qualquer dia ele também sai com um livro, Geometria de Rabicó, qualquer coisa assim. Deu mania de escritores neles. Até Quindim está fazendo uma História Natural – e bem boa para um animalão chifrudo daqueles.
Bem, a prosa está boa mas é hora de ir tomar café. Já me chamaram (e com bolinhos de tia Nastácia). Por isso, adeus. Seja muito feliz e me escreva uma carta bem comprida e asneirenta como as da Emília.
Do amiguinho desconhecido
Monteiro Lobato

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