Feita de um "paninho ordinário", Emília nasceu muda, mudinha. E só ganhou voz depois que tomou as pílulas falantes do Doutor Caramujo, lá do Reino das Águas Claras. Desembestou a tagarelar. A pobrezinha sofria de "fala recolhida".
Criaturinha teimosa e birrenta, foi chamada de "torneirinha de asneiras" por sua dona, a menina Narizinho.
Mas as bobagens (ou asneiras) de Emília fazem até hoje muita gente pensar. A boneca vira as coisas do avesso para espiar bem por dentro como são de verdade. Questionadora, ela não engole qualquer explicação como resposta.
Também não leva desaforo, inventa sim umas mentirinhas, manda e desmanda. Adora invencionices como o "livro comestível". De boneca desajeitada, ela vira a líder do Sítio do Picapau Amarelo.
Dizem que Emília é a voz de Lobato, ou seja, ela fala o que o escritor pensa sem ele mesmo ter que falar (ou escrever). Uma vez o próprio autor confessou isso numa carta: "A Emília é infernal. Não posso mais com ela. Quando estou batendo o teclado, ela posta-se ao lado da máquina, quem diz que eu digo o que desejo?".
"Asneira de boneca é a única coisa interessante que há neste mundo."
A MENINA LÚCIA, em "Reinações de Narizinho"
Filosofia de boneca
"... A vida, senhor visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos (...) É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais."
Trecho do livro "Memórias de Emília" (1936)
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