Quem percorre os corredores dos Estúdios Renato Aragão em Vargem Grande, Zona Oeste carioca, inevitavelmente vai voltar no tempo. Figurantes com roupas de escamas ficam transitando enquanto crianças fantasiadas de aranhinhas brincam inquietas.De repente surge uma menina vestida de boneca de pano, um homem cuja roupa lembra um sabugo de milho e um rinoceronte com vestimentas coloridas.
Não há dúvidas: trata-se do "Sítio do Pica-Pau Amarelo".Emília, Visconde de Sabugosa, o rinoceronte Quindim, Dona Benta, Tia Nastácia, Pedrinho, Narizinho, Marquês de Rabicó e o fantástico mundo de Monteiro Lobato, que povoam o imaginário das crianças desde a década de 30 e que nos anos 70 e 80 ganharam uma versão televisiva, estão retornando em uma nova roupagem. No dia 12, o "remake" do seriado infantil estréia dentro de "Bambuluá", nas manhãs da Globo.A readaptação do "Sítio" é uma aposta da Globo para angariar mais audiência de "Bambuluá".
Mas como a concorrência dos desenhos japoneses é grande, a emissora teve de adequar o programa aos tempos modernos. O estilo aventura e fantasia do original vai ser mantido, tendo como locação principal um sítio em Guaratiba, Zona Oeste do Rio. Mas a produção vai lançar mão de recursos tecnológicos para atrair a criançada. Os bonecos do Quindim, Rabicó e Burro Falante - "animados" por Sidney Beckenkamp, Aline Mendonça e Zé Clayton respectivamente - vão aparecer juntamente com efeitos de computação gráfica.A mesma que vai "sumir" com uma das pernas de Izak Dahora para que ele dê vida ao Saci. "A computação gráfica tem viabilizado o projeto, mas o que vai chamar a atenção é o resgate das histórias que povoaram nosso imaginário", acredita o diretor Márcio Trigo.
O roteiro também teve de se adequar ao linguajar mais "moderno" da garotada. Ou melhor, da "galera". Gírias atuais foram inseridas nos diálogos, principalmente de Pedrinho, Narizinho e Emília, papéis de César Cardadeiro, Lara Rodrigues e Isabelle Drummond respectivamente."Como se passa nos dias atuais, a linguagem foi atualizada para dar mais veracidade", justifica Luciana Sandorni, uma das autoras da nova versão do "Sítio" ao lado de Marina Mesquita, Toni Brandão e Cláudio Lobato - que apesar do sobrenome não é parente de Monteiro Lobato. Mesmo assim, expressões "originais" como "torneirinha de asneiras" e "cara de coruja seca" foram mantidas.Outros aspectos vão chamar a atenção dos telespectadores mais velhos para o novo "Sítio". Dona Benta, papel de Nicete Bruno, vai acessar Internet, enquanto Pedrinho chega da cidade trazendo a tira-colo vídeo-game e skate.Já o Visconde de Sabugosa, personagem de Cândido Damm, vai aparecer, através de efeitos, no tamanho de uma espiga de milho. Quer dizer, o ator grava tudo sozinho e suas cenas são inseridas depois. "Acaba sendo um exercício enorme, pois tenho de me imaginar na estante de livros ou no colo do Pedrinho", enaltece Candido.Cada episódio do "Sítio" vai ser dividido em cinco capítulos diários de 15 minutos. A história de estréia é "O Reino das Águas Claras", um dos capítulos de "Reinações de Narizinho", onde a menina de nariz arrebitado vai ao reino do Príncipe Escamado, papel de Rafael Novaes, e conhece personagens inusitados como Dona Aranha e Dona Carochinha, interpretadas por Ana Paula Botelho e Josie Antello, além do sapo Major Agarra-e-Não-Larga-Mais.
Este personagem, aliás, mostra bem a "modernidade" que o "Sítio" tenta passar. Os movimentos da face do boneco serão eletrônicos, feitos através de comandos do mesmo tipo usados em carros movidos por rádio.Os mais saudosistas podem até estranhar a modernidade e as diferenças. Principalmente quando ouvirem a música tema do "Sítio do Pica-pau Amarelo" na voz de Ivete Sangalo.
Nada mais compreensível já que até Tia Nastácia, que vai ser interpretada por Dhu Moraes, vai olhar desconfiada para alguns avanços tecnológicos: no caso, um forno de microondas.Mesmo assim, os roteiristas prometem manter a magia do "pirlimpimpim" que encanta leitores de Monteiro Lobato e que já fascinou telespectadores. "Foi um marco na tevê. Estamos fazendo uma releitura minuciosa de cada história", garante Luciana.
Notícia:2001
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