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quinta-feira, 10 de julho de 2008

Episódio Olhos de Retros de 1979


Os serões de Dona Benta, desfiados nas compridas noites do sítio eram sempre uma provocação, um desafio à imaginação febril das crianças. Numa determinada reunião, interessou-lhes a perspectiva de a Terra um dia mudar de dono.

No dia seguinte, o arrogante Coronel Teodorico apareceu para pedir um empréstimo à Dona Benta, dizendo-se à beira da falência. Dona Benta emprestou algum dinheiro ao Coronel e, antes que ele fosse embora, e referindo-se ao que haviam discutido na véspera, Emília criticou a preocupação do ser humano com dinheiro, pois não iria valer mais nada,no caso de a Terra passar a ser dominada por outros seres, e que estava disposta ela própria, uma boneca, da assumir o comando do mundo. Assim que isso acontecesse, prometia mudar tudo que existia e inventar coisas novas, decidida a multiplicar o poder da boca, dos pés, das mãos e dos ouvidos. O Coronel se foi impressionado e preocupado com a possibilidade das mudanças prometidas por Emília. Com isso, resolveu aumentar seu poder sobre o Arraial de Tucanos, comprando mais propriedades, menos a Venda do Elias Turco, que recusava-se a desfazer de seu negócio.

Emília não parou mais de pensar nesse seu novo plano, envolvendo Dona Benta com perguntas sobre os projetos mais mirabolantes que lhe vinham à cabeça e não pára de divulgar por toda a parte a aproximação de uma nova Era sob seu comando. Com a ajuda do Saci consegue que sons amplificados partidos da mata durante a noite, anuncie que “um novo Rei irá chegar para mandar em todos!”

Alarmado, o pessoal do sítio repreende Emília, que finge que desistiu da idéia, mas continua as experiências, pesquisas e anotações auxiliadas pelo Visconde. Sua última experiência é com“cheiros”novos,

quase sufocando as vizinhanças e até tirando o faro dos cães de caça.

Todos protestam contra Emília menos Narizinho, que a protege, mas percebe que a boneca, com suas exaustivas pesquisas, está perdendo seus próprios poderes e aptidões quase-humanas. Praticamente, está a ponto de voltar a ser, como no início, uma simples boneca muda.
Chega, infelizmente, o dia em que até diminui de tamanho, e fica apenas um objeto de pano absolutamente inútil, que não pode mais brincar, participar, dar palpites. Por dentro, mantém sua sabedoria, mas não pode mais manifestar-se. Se não está com Narizinho, fica jogada a um canto.

Até que um dia Tia Nastácia fabrica uma nova boneca, também de pano chamada Ignácia.Mas só Emília, em sua mudez, sabe que essa nova boneca é pretensiosa e pretende desenvolver-se tanto quanto ela. Na calada da noite, essa rival a desafia, zombando de Emília e ameaçando-a . Primeiro com gestos e olhares, até que também começa a falar, graças – não à pílula falante – mas a sementes de girassol com seguidas pelo Saci, que apiedando-se da condição da “dona boneca”, resolve ajudá-la mas acaba dando as sementes à Ignácia. Quando ela ganha vida, ela engole as sementes. Narizinho entra correndo na sala e grita “Emília!”, mas a boneca ergue a cabeça e diz: “Eu não sou a Emília, meu nome é Ignácia.”

A partir daí, torna-se a graça da casa, mais bonitinha, mais carinhosa, menos pretensiosa, menos asneirenta e, sobretudo, educadíssima. Suas opiniões são sempre bem-vindas, parece uma menina prendada e obediente, mas só Emília – muda – sabe que ela é sonsa, ambiciosa e sem talentos.

Só Narizinho não se afasta de Emília; quando ia passear, levava as duas bonecas.
O Arraial dos Tucanos não esquecera as informações do
Coronel Teodorico, impressionado com os vaticínios de Emília, de que o mundo iria mudar de dono, e aproveita para cobrar aluguéis absurdamente caros, enriquecendo às custas da população. Ele consegue aliciar Garnizé como seu cobrador-mor, mas ele logo se revoltou e o Coronel arranjou outro para a função, que tentou convencer o patrão a comprar o sítio de Dona Benta a preço vil. Esta fica indignada com a postura do compadre, que secretamente resolve inventar de fato um falso “Senhor da Humanidade”. O misterioso “Rei” inventado pelo coronel começa a mandar recados ameaçadores, só beneficiando Teodorico e seu capataz.

Em suas manobras, o Coronel chega a estabelecer uma certa “Casa do Rei”, de onde ninguém pode aproximar-se. O povo chega até ali perto com consultas, pedidos e ofertas. Chega o momento em que o “Rei” não pode mais esconder-se e Teodorico então escolhe um sapo para fingir que é o futuro “Rei do Mundo” mas, para azar deles, o sapo arranjado é o Major Agarra-e-não-Larga-Mais, sentinela do Reino das Águas Claras, muito amigo da cambadinha do sítio. Emília é que descobre tudo e vê aí a chance de retomar a antiga condição de boneca gentificada. Entra em ação e consegue do sapo uma daquelas célebres pílulas falantes do Doutor Caramujo. Ao engolir a pílula, retoma. Para a alegria geral, sua antiga condição.

Desmascarado, Teodorico é forçado a devolver tudo a seus antigos donos e a Ignácia é despachada de presente à neta do Coronel e a paz volta a reinar no Sítio do Pica Pau Amarelo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente a Ignácia não é despachada para a casa da Regininha, neta do Teodorico, mas volta a ser uma simples boneca de pano. Foi rejeitada por todos, e acaba esquecida numa caixa de madeira, guardada pela Emília. O final dela foi muito triste e injusto, como se, por carente e não saber o que quer na vida, fosse um crime passível de castigo e isolamento. Essa foi um dos piores episódios do Sítio clássico, texto fraco, sem sentido (a subtrama do "rei do mundo") e cheio de buracos e eventos forçados. Desperdiçaram a Ignácia... uma personagem interessante que poderia ter sido marcante como o Viscondinho de '"A morte do Visconde", ensinando uma bela lição sobre crescer e amadurecer. Mas foi apenas uma boneca boba criticada até pelo Saci... que pena!