Desde criança, ela ouvia comentários a respeito da amizade entre o avô e um também escritor.
Ambos se correspondiam por cartas. No entanto, foi há cerca de 20 anos que a londrinense Vera Lúcia de Oliveira Rangel Cremer teve a exata dimensão da sólida amizade e apreço intelectual entre o avô, Godofredo Rangel, e Monteiro Lobato.
Isso aconteceu ao vasculhar os pertences do pai, Caio de Moura Rangel, médico pioneiro em Londrina. Ela encontrou um suplemento literário editado pelo Governo de Minas Gerais na ocasião do centenário de nascimento de Godofredo.
“Fiquei surpresa. Meu pai era um pouco reservado e falava pouco sobre as correspondências. Quando li os meus olhos se encheram de alegria”, complementa.
A amizade entre o mineiro Godofredo Rangel (1884-1951) e o paulista Monteiro Lobato (1882-1948) começou em São Paulo, no “Minarete”, uma república estudantil.
Rangel formou-se em Direito e assumiu o posto de promotor Público no município de Cambuí (MG). A distância não impediu que Rangel e Lobato continuassem sendo amigos.
“Eles pouco se encontraram, mas durante 40 anos escreveram muitas cartas. Falavam de tudo, mas principalmente sobre literatura. Um dava palpite na produção do outro”, assinala Vera Lúcia, 56 anos, vendedora autônoma.
A obra de Monteiro Lobato tornou-se mais conhecida que a do amigo, que paralelo à vida jurídica escreveu oito títulos entre romances, contos e livros infantis, além de ter feito mais de 50 traduções do inglês, francês e espanhol uma das mais conhecidas é “Oscar Wilde, sua vida e confissões”.
Preciosidades
Vera Lúcia, claro, tem muito mais intimidade com a literatura do avô. Cita “Vida Ociosa”, romance publicado em 1917, como um de seus preferidos.
“O Monteiro Lobato dizia que tratava-se de uma obra-prima”, salienta.
A londrinense nunca leu nenhum manuscrito. Acredita, porém, que muitos estejam na Casa de Cultura Godofredo Rangel, em Três Pontas (MG), cidade natal do escritor. “Quem as guardava era o Tio Nello, já falecido. Acredito que muitas devem ter se perdido”, informa.
As correspondências aconteceram entre 1903 e 1948. Lobato publicou algumas, em 1944, em “A Barca de Gleyre”.
Rangel não se interessou em publicar as suas, apesar da insistência do amigo.
“São preciosidades. Essa história passou de geração para geração. Falei para os meus filhos e pretendo falar para os meus netos”, diz Vera.
Senha do além
Embora falassem principalmente sobre o mundo das palavras, havia espaço para assuntos como idade, saúde e religião.
“Completo hoje 33 anos. E tu? Quantos já tens feito? Tua idade foi sempre um enigma para mim. E falas em cabelos brancos. Os que me aparecem brancos ainda têm conta”, escreveu Rangel em 21 de novembro de 1917.
Lobato,por sua vez, assim falou sobre a idade, anos e anos mais tarde, com um toque místico. “Rangel, Rangel! Estamos na realidade sobrando neste mundo, e muito na bica, os dois para o pulo final. Temos pois de deixar as coisinhas deste mundo, que até aqui nos interessa, e pensar nas coisas do outro porque há outro mundo, disso estou certo”.
Uma história virou no imaginário popular. Os amigos, certa vez, combinaram uma senha para que, quando um deles morresse, pudesse se comunicar “do além”. É que Monteiro Lobato, em determinada época, interessou-se pela doutrina kardecista.
Tempos após a morte de Lobato, um médium mineiro procurou Godofredo Rangel para autenticar mensagens supostamente psicografadas do autor de “Urupês”.
“Meu avô se recusou porque não tinha a tal senha. Até hoje ninguém sabe qual é”, avisa. “O importante mesmo é que os dois lutaram e muito pela boa literatura brasileira”, finaliza Vera com veemência.
3 comentários:
posta videos de 2007 de o anjinho de asa quebrada
poste aquela última cena do circo que você naõ terminou de postar quando pediram o último capítulo é a partir de quando a miloca fica com medo do berloque e ele sai e o tio barnabé o leva pra estação,por favor poste essa cena eu imploro.
por favor poste,atenda meu pedido logo por favor.
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