Buscar no Blog

terça-feira, 3 de maio de 2011

Pisca-pisca

“A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais. É, portanto, um pisca-pisca.
O Visconde ficou novamente pensativo, de olhos no teto.

Emília riu-se.

- Está vendo como é filosófica a minha ideia? O Senhor Visconde já está de olhos parados, erguidos para o forro. Quer dizer que pensa que entendeu… A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e morre.

- E depois que morre? – perguntou o Visconde.

- Depois que morre vira hipótese. É ou não é?”



(Trecho extraído de Memórias da Emília, livro em que a boneca resolve contar a sua “grande” biografia. Mas, danada como ela só, Emília manda o Visconde escrever o texto só com as histórias selecionadas por ela. Espertinha essa boneca!)

Nenhum comentário: