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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Lobato a toda a hora, desde cedo e sempre

   ReproduçãoChego a ouvir muito hoje em dia mães de criança pequenas dizendo “ah, ainda acho difícil ler Monteiro Lobato para meu filho”. Até se formos puxar pela nossa memória de quando Lobato entrou em nossas vidas, com certeza a lembrança é a gente com livros nas mãos, com o dedinho acompanhando as palavras... Então existem outras iniciativas, mídias, etc, porque apresentar a família da Dona Benta a uma criança nunca é cedo demais. A despeito das polêmicas envolvendo o autor em acusações bizzarras e descontextualizadas de racismo, sim.

Se tem dúvidas, pegue um texto já dele. Veja a forma como ele escolhe as palavras, corta as frases, conduz a história. Como ele coloca a gente dentro do Sítio do Picapau Amarelo, nos envolve com os personagens, nos faz acreditar naquele quintal que, sim, todos nós gostaríamos de morar. E, na verdade, moramos a cada leitura. Experimentamos as guloseimas de Tia Nastácia, temos medo, ansiedade. Ficamos bravos com Emília, sentimos o aconchego de Dona Benta a cada história contada.

Repito isso tudo para contar a vocês que a Globinho, selo da Globo Livros que detém os direitos de publicar a obra de Lobato, lança agora duas novidades. A primeira é a Coleção Pirlimpimpim, uma série de livros com episódios pinçados da obra original, voltados para entreter e atrair crianças a partir dos 5 anos de idade. E outro ponto que adorei é que cada volume terá um ilustrador diferente. Nada como “usar” Lobato, o NOSSO grande autor de livros para crianças para apresentá-las uma variedade estética, traços, cores, técnicas diversas e criativas. Os primeiros a serem lançados são As Jabuticabas, As Formigas-Ruivas e O Medo, trechos de Reinações de Narizinho e O Saci.

Mas tem mais. Chega também agora, 20 anos após a última edição, a nova edição de O Garimpeiro do Rio das Garças, um livro para crianças pouco conhecido, fora das terras do Sítio do Picapau Amarelo. Na década de 1920, aventureiros de todo o Brasil largaram tudo rumo à região deste rio no Mato Grosso em busca de diamantes e ouro. Inspirado nisso, Lobato conta a história de João Nariz (o nome é demais, não?) que tem, claro, o olfato a seu favor para farejas as pedras. E, como adoro “começos”, veja este:

João Nariz ouviu falar do rio das Garças e da enorme quantidade de diamantes que existia em seu leito. Leito é o lugar por onde um rio corre. Esse rio das Garças fica no estado de Mato Grosso, lá longe. A fama dos seus diamantes há muito tempo que atrai aventureiros de todas as partes do mundo.
João Nariz era muito pobre e por isso mesmo tinha grande vontade de ser rico.

Entendem do que estou falando? E o livro, mais voltado para crianças a partir de 7 anos, tem cangaceiro conhecido por muitas mortes, jacaré faminto e espinhos de cacto. Mas tem amizade entre homem e cachorro e um sonho conquistado, ao mesmo tempo em que apresenta ao leitor um passado brasileiro de conquistas, mas de muita tristeza também. É rico de informação, de vocabulário e também direto e simples. Não é para qualquer um.

E o texto nesta edição vem acompanhado de um belo projeto gráfico que nos ambienta na aridez do tema com os traços precisos do ilustrador Guazzelli, artista plástico bastante dedicado aos quadrinhos, mas que já tem muitas belas passagens pela literatura infantil.

Simplesmente, aproveitem!

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