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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O sonho mora nas páginas de Monteiro Lobato

Você já deve ter passado várias manhãs assistindo ao “Sítio do Picapau Amarelo”, não é verdade? Não há criança que não goste das aventuras de Pedrinho, Narizinho, Emília, Visconde, Tia Anastácia e todos os personagens que vivem no sítio da Dona Benta. O que nem todo mundo sabe é que é possível participar dessas aventuras a qualquer hora do dia e em qualquer dia da semana, sem comerciais e – o melhor de tudo – sem hora para acabar. Como? Nos livros!
As histórias do “Sítio do Picapau Amarelo” foram escritas pelo brasileiro Monteiro Lobato. Ele foi considerado o principal autor de literatura infantil em língua portuguesa e foi, além de um grande escritor, um homem visionário e muito importante para o Brasil. Mas vamos falar dele mais tarde.
Acontece que muitas das histórias escritas por Monteiro Lobato sobre o pessoal do sítio foi adaptada e apresentada no programa da televisão. Aliás, várias histórias apresentadas na série da Globo foram escritas especialmente para a TV, por outros autores. Mas é nos livros que estão uma quantidade enorme de histórias e aventuras dessa turma que nunca foram para a telinha!
Com os personagens do sítio, Lobato fez 17 livros. São eles “Reinações de Narizinho”, “Viagem ao céu e O Saci”, “Caçadas de Pedrinho e Hans Staden”, “História do mundo para as crianças”, “Memórias da Emília e Peter Pan”, “Emília no país da gramática e Aritmética da Emília”, “Geografia de Dona Benta”, “Serões de Dona Benta e História das invenções”, “D. Quixote das crianças”, “O Poço do Visconde”, “Histórias de Tia Nastácia”, “O Picapau Amarelo e A Reforma da natureza”, “O Minotauro”, “A chave do tamanho”, “Fábulas” , “Os doze trabalhos de Hércules (1º volume)” e “Os doze trabalhos de Hércules (2º volume)”.
Personagens

Os personagens criados por Monteiro Lobato são, ao mesmo tempo, muito simples e parecidos conosco e, ao mesmo tempo, muito, muito mágicos e especiais.
Já imaginou ter uma boneca que falasse com você? Não só as frases repetidas, mas que tivesse suas próprias idéias sobre todos os assuntos – ainda que elas fossem muito maluquinhas? Que tivesse mil idéias para inventar brincadeiras, passeios e aventuras? Assim era Emília, a boneca de Narizinho.
Emília foi feita pela tia Anastácia, de retalhos de pano – que é como eram feitas as bonecas de antigamente. Era recheada de macela – uma planta com florezinhas douradas e cheirosas – e, assim que ficou pronta, não falava. Ela só começou a falar quando foi com Narizinho ao Reino das Águas Claras e, lá, conheceu o “célebre Doutor Caramujo”, que tinha pílulas que curavam tudo! Ele deu para a boneca uma “pílula falante” e, desde então, Emília virou a boneca faladeira que é!
Visconde
Além de Emília, outro personagem que vive no sítio foi também foi feito: O Visconde de Sabugosa. Em uma das “reinações” de Narizinho e Pedrinho, eles resolveram que iam “casar” a boneca Emília. O noivo seria Rabicó, um porquinho muito guloso que vivia no sítio. Mas a Emília disse que não ia se casar com o porquinho porque ele era muito mal-educado.
Narizinho e Pedrinho resolvem então transformar o porquinho em marquês. O Marquês de Rabicó – marqueses são pessoas importantes nos reinos, juntamente com os condes, os viscondes, os barões e os duques.
Agora que o porquinho era importante, Emília concordou em se casar com ele. Mas havia um problema: eles precisavam de alguém para fazer o pedido e, então, fizeram um pai para o porquinho. Pedrinho pegou uma espiga de milho, colocou nela braços e pernas e uma cartolinha. E estava criado o Visconde de Sabugosa!
Entre uma outra aventura, o visconde ficou esquecido na estante da biblioteca e ficou lá tantos dias entre os livros que acabou sabendo tudo que tinha neles! Foi assim que o Visconde de Sabugosa virou o sábio do sítio! Ele ajuda os meninos nas aventuras e tem muitas invenções legais!

Dona Benta
Um dos passatempos favoritos do visconde são as conversas que ele tem com a Dona Benta. E não é para menos! Ela é a vovó dos sonhos de toda criança! Muito sabida, ela tem na ponta da língua a resposta para quase todas as perguntas. Entende de geografia, história, gramática e muitas outras coisas! Além de tudo, Dona Benta é uma vovó que adora as aventuras dos netos, mesmo que, às vezes, fique muito preocupada com tantas estripulias!
Com Pedrinho, Narizinho e a turma, ela já foi até a Grécia antiga – nós falamos da Grécia no último Revistinha, lembra? – e conheceu muitos sábios importantes e até deuses da mitologia grega! Dona Benta só não se animou para acompanhá-los na viagem que eles fizeram até o céu. Estava cansada e preferiu ficar um pouco no Sítio mesmo.
Viagem ao céu? Isso mesmo! Eles viajaram ao céu e conheceram de perto as constelações, os cometas e até visitaram a lua e São Jorge! E tem mais: a turminha visitou o país da gramática e acompanhou de perto as aventuras de grandes heróis – como Hans Staden, Don Quixote e Hércules.
O sítio
Mas nem sempre é preciso viajar para realizar grandes aventuras. O sítio é um lugar tão maravilhoso – com árvores de todos os tipos de frutas, riachos e lugares para brincar – que muitos personagens dos contos infantis, às vezes, aparecem por lá! O Pequeno Polegar, por exemplo, uma vez resolveu que estava cansado das histórias e fugiu do livro em que morava e foi lá para o sítio! Outros personagens se empolgaram com a aventura do Polegar e foram atrás dele. Resultado: todos os personagens de todas as histórias foram parar lá: Branca de Neve, Cinderela, Aladim, o Gato de Botas, Popeye, Alice (do País das Maravilhas), a Bela e a Fera, Peter Pan, enfim, todos eles foram parar no sítio. Já imaginou a festança que ele não fizeram?
A “Chave do Tamanho”
A verdade é que, já no primeiro livro, “Reinações de Narizinho”, aprendemos que no sítio inventado por Lobato tudo é possível e tudo acontece. Não é à toa que Pedrinho, o neto de Dona Benta e primo Narizinho, fica louco para que cheguem as férias! Afinal, ele mora e estuda na cidade e, quando está de férias, vai correndo para o sítio da vovó, viver as mais incríveis aventuras. Lá, no sítio, já esteve até um anjinho do céu, desses de verdade, com asa e tudo, que foi parar lá quando caiu das nuvens.
Quer saber mais histórias incríveis? Então veja só: em um dos livros, Emília descobre aonde fica a “Casa das Chaves”. A “Casa das Chaves” era um lugar onde estavam todas as chaves que regulavam todas as coisas do mundo. Na época, estava acontecendo uma guerra e Emília resolveu ir lá e desligar a “chave que abria e fechava as guerras”. Mas as chaves eram todas iguais e Emília acabou mexendo na “Chave do Tamanho”.
Sabe o que aconteceu? Todas as pessoas do planeta ficaram pequenas, do tamanho de um minhoca. Já imaginou a situação? Como as coisas e os bichos ao mudaram de tamanho o mundo virou um lugar muito esquisito para os humanos! Um passarinho, bem pequenininho, que antes qualquer criança segurava na mão era agora um bicho enorme, que acabava nos confundido com minhocas de verdade! Os homens do mundo todo começaram a prender a viver com seu novo tamanho, fazendo roupas com chumaços de algodão, e transformando baldes em verdadeiras cidades!
As maluquices que aconteceram estão todas contadas no livro “A Chave do Tamanho” e são tão divertidas quanto as maluquices que aconteceram quando Emília resolveu reformar a natureza. Isso mesmo: a bonequinha cismou que os bichos e as coisas da natureza podiam ficar ainda melhores e começou a mexer em tudo: afundou as costas de um passarinho para que ele pudesse ter um ninho nas costas, colocou o rabo da vaca mocha no meio das costas – “para melhor afastar as moscas”, explicou a boneca – e reformou as borboletas para que elas ficassem “mansas e pegáveis”. Fez coisas que você nem imagina!

Narizinho
Falando assim, parece até que só a Emília se divertia no sítio. Que nada! Todos participam das aventuras. A Narizinho, por exemplo: sabia que o nome dela é Lucia? As pessoas a chamam de Narizinho porque ela tem o nariz bem arrebitado!
Ela mora com a vovó, Dona Benta, lá no sítio e, junto com a Emília, também já aprontou das suas. Uma das histórias mais legais é quando ela conhece o Príncipe Escamado – que é um peixe – na beira do riacho do sítio. Ele a chama para ir com ele conhecer o Reino das Águas Claras – que fica no fundo do riacho. Você não imagina que lindo é lá! As carruagens são puxadas por cavalos marinhos, há um show feito pelas sardinhas, e Narizinho resolve se casar com o Príncipe Escamado e ganha um vestido feito de cor do mar com todos os seus peixinhos, feito por uma aranha de Paris, que morava no reino. Aliás, Narizinho ficou tão bonita que o espelho se arregalou para admirá-la e quebrou, libertando a aranha de uma maldição...
Tia Anastácia
Mas o resto dessa história está no livro. Aliás, alguns dos livros da turma do sítio são verdadeiros “livros dentro de livros”. Isso porque Tia Anastácia, que mora com Dona Benta no sítio, além de ser a melhor quituteira que existe, sabe contar histórias como ninguém. E várias vezes ela e dona Benta também ficam à noite a contar “causos” para a turminha, enquanto eles comem suas deliciosas rosquinhas de polvilho.
E só falamos da turma principal do sítio. Há ainda a Cuca, uma bruxa feia com cara de jacaré que mora numa caverna escura; o Saci, um perneta muito safado que adora fazer estripulias nos terreiros das fazendas e assustar os animais no pasto e sabe os segredos da floresta. O Quindim, um rinoceronte que foi morar lá depois de fugir do circo; o Burro Falante, que de burro não tinha nada e era um ótimo conselheiro e vários outros. Você também pode ir para lá. Não precisa nem do pó de Pirlimpimpim. Você só precisa ler...

Monteiro Lobato
O nome completo de Monteiro Lobato era José Bento Monteiro Lobato. Ele nasceu em Taubaté, uma cidade do estado de São Paulo em 1882. Além de escritor, ele foi fazendeiro, jornalista e era formado em direito.
Tanto em sua obra quanto em sua vida, o escritor teve sempre presente a preocupação com os problemas brasileiros. É importante saber que ele também escreveu livros para adultos. No livro “Urupês”, por exemplo, revela vários aspectos do interior brasileiro. Outro personagem marcante de Monteiro Lobato foi o Jeca Tatu, do livro “Idéias de Jeca Tatu”. O Jeca era uma caricatura do homem do interior, doente, pobre, ignorante – ficou famoso no Brasil inteiro.
Lobato foi um defensor dos interesses nacionais e um pioneiro na luta pelo petróleo no Brasil. Ele morreu em 4 de julho de 1948. No próximo domingo, fará 56 anos que ele morreu.
Suas obras foram traduzidas para várias línguas, e crianças de muitas partes do mundo puderam conhecer e sonhar com a brasileiríssima turminha do “Sítio do Picapau Amarelo”.

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