A atriz Nicette Bruno não precisa nem estar caracterizada para convencer como Dona Benta, personagem que vai interpretar na nova fase do "Sítio do Pica-pau Amarelo". Com jeito simpático e esbanjando sabedoria - características fundamentais da lendária personagem criada por Monteiro Lobato -, Nicette não esconde a emoção com este novo trabalho.
"Afinal, trata-se de um dos maiores clássicos de nossa literatura infantil", vibra a atriz, que começou a gravar a nova versão do programa, dirigido por Roberto Talma, na semana passada, numa chácara na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A estréia do "Sítio" está prevista para final de setembro, com 15 minutos de duração, dentro do "Bambuluá".
Com mais de 40 anos de carreira, Nicette revela que quando aceitou o convite para viver a Dona Benta foi muito questionada por alguns colegas. Ela diz que algumas pessoas imaginam que a atriz ficará limitada e dificilmente fará outras coisas na televisão. "Todos estão absolutamente equivocados. E se não me chamarem para outros trabalhos, o problema não é meu", vai logo avisando Nicette, sem esconder o bom humor com a situação.
As inevitáveis comparações com Zilka Salaberry, que fez a mesma personagem na primeira versão, na década de 80, também não preocupa Nicette. Embora reverencie a atuação de Zilka, ela acredita que a personagem é muito mais forte do que a qualquer atriz.
"A Dona Benta é uma personagem extremamente ativa", define.
Para Nicette, o ressurgimento do "Sítio do Pica-pau Amarelo" na televisão está acontecendo num bom momento. Principalmente porque o programa não trata apenas da questão lúdica da criança, como também ajuda no desenvolvimento social e educacional do público infantil.
"Estamos vivendo uma fase na qual o individualismo predomina nas pessoas. Já a obra do Monteiro Lobato mostra a importância do coletivo", filosofa a atriz, casada há 46 anos com o ator Paulo Goulart, com quem teve três filhos e sete netos.
Nicette acrescenta ainda que o texto de Monteiro Lobato transmite um grande conceito de vida. "Quem se depara com a obra dele, tem um estímulo maior para viver", enfatiza a atriz.
Segundo Nicette, são conceitos como este que estão faltando atualmente na televisão brasileira. Ela acha que a maior preocupação dos programas infantis atuais é com a realização profissional. Nicette acha que falta conteúdo e boas propostas para o público infantil.
"A fantasia é importante para as crianças, mas o essencial é proporcionar novos conhecimentos e uma nova cultura. O 'Sítio', sem dúvida alguma, atende muito bem isso", acredita a atriz.
Nesta nova versão do "Sítio", algumas características dos personagens estão sendo modificadas. A Narizinho, por exemplo, deve usar um piercing. Já a Dona Benta, vai se comunicar com os netos através do computador. "Mas isso não significa que ela vai deixar de escrever por meio de bilhetes também, que é fundamental. Mas acho importante qualquer tipo de evolução", explica Nicette.
A atriz se diz incomodada com algumas repercussões que a nova fase do programa ganhou nos jornais, principalmente depois que o diretor Roberto Talma mudou um pouco as características dos personagens de Monteiro Lobato. "Todas as mudanças que ele fez são pertinentes. A televisão vive uma nova era. Então, não teria como fazer como antigamente", pondera a atriz.
O entusiasmo com a nova fase do "Sítio do Pica-pau Amarelo" é tão grande que Nicette protelou alguns projetos teatrais, onde diz realmente ter o seu maior compromisso profissional. "Já na tevê, cumpro uma função social", completa Nicette. Por enquanto, ela não foi informada pela direção da Globo até quando se estenderá a nova fase do programa. "Por mim, fico até uns cinco anos", brinca.
Notícia 2001
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