Antes de interpretar o Saci Pererê do “Sítio do Picapau Amarelo”, Izak Dahora pulou de galho em galho entre diferentes experiências que fizeram com que se tornasse um artista completo. Nascido Alcântara e criado no Porto da Pedra, em São Gonçalo, onde morou até os 19 anos, ele afirma que, apesar de ter começado a trabalhar muito cedo, a vivência no bairro que deu nome à escola de samba, era o que desacelerava o ritmo de sua rotina puxada.
— Ter vivido lá contribuiu muito para que eu tivesse uma infância como a de uma criança normal. Na minha memória afetiva, eu tenho o Porto da Pedra como o lugar em que eu conhecia as pessoas pelo nome, do jornaleiro ao dono da mercearia. Morava numa vila e, quando não estava estudando ou trabalhando, gostava de jogar bola com os vizinhos no meio da rua — recorda Dahora.
Aos 8 anos, ele começou a dar os primeiros passos da carreira artística, quando entrou para o Coral de Música Antiga da UFF, em que cantava e tocava flauta doce. Dois anos depois, entrou para a Orquestra de Câmara de Niterói. No grupo, ele aprendeu a tocar violino e conheceu o maestro Márcio Selles, responsável por sua primeira aparição na TV.
— O Márcio foi convidado para fazer um comercial com o outro coral, que também era regido por ele. Como no grupo não tinha nenhum integrante negro, e essa era uma exigência dos realizadores, ele me convidou para fazer esse trabalho. Aí, um amigo do meu pai me viu na televisão, perguntou se eu não queria fazer parte da agência dele e começar a fazer figuração. Depois de um tempo, minha mãe viu que eu estava gostando da coisa e resolveu me matricular num curso de teatro. Logo em seguida, entrei para uma agência, que selecionava crianças para elenco de peças de teatro, filmes, novelas. Passei por vários testes, fiz pequenas participações em novelas e num programa da Angélica até que, finalmente, consegui o papel no “Sítio” — resume o ator.
Um passeio da escola, no entanto, quase impediu que Dahora vivesse o lendário Saci Pererê. Cansado de receber não em testes, o ator, que na época tinha apenas 12 anos, titubeou na hora de decidir entre a farra com os amigos e a responsabilidade de ser mais uma vez avaliado por uma banca. O desafio falou mais alto.
— Fui meio desanimado, mas quando cheguei ao local do teste e vi um monte de crianças, eu me empolguei na hora. O resultado demorou alguns meses, mas eu imaginava que fosse conseguir o papel, porque um câmera confidenciou para a minha mãe, que o Talma (Roberto, diretor) tinha gostado muito da minha atuação e deveria me chamar — revela ele, que conciliava as gravações do programa com as aulas de violino e piano no Conservatório Carlos Gomes, em São Gonçalo.
Em 2005, Dahora entrou para a faculdade de artes cênicas, na UniRio. O ator também havia passado para direção teatral, na UFRJ, e história, na Uerj, mas preferiu investir na carreira que já estava seguindo. No ano seguinte, entretanto, a vida no “Sítio” acabou, mas a brincadeira de faz de conta teve cenas dos próximos capítulos nas novelas “Eterna magia”, em 2007, “Escrito nas estrelas”, em 2010, e “O astro”, em 2011. Seus dotes com o violino eram sempre aproveitados na ficção.
— Já havia tocado o instrumento como Saci. E voltei a usá-lo nas novelas da Beth (Elizabeth Jhin) e num episódio do seriado “Brava gente” — comenta.
Aos 19 anos, quando estava próxima de acabar a sua participação no “Sítio”, o ator experimentou a primeira forte despedida um pouco antes, quando saiu de São Gonçalo. Dahora foi com os pais para Jacarepaguá, onde mora até hoje.
— Quando saí de São Gonçalo, já estava morando no bairro do Rodo. Mas costumo ao Porto da Pedra até hoje para ver meus parentes, que moram todos lá, principalmente a minha avó, que já tem 91 anos. No ano passado, inclusive, passei o Natal com a família inteira na casa dela — diz.
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