Dia de cineclube na Eurico Gaspar Dutra, escola estadual de tempo integral na Vila Mariana, em São Paulo, mais conhecida como Euricocó, a escola do galo João.
Depois do almoço, as crianças e adolescentes se sentam em frente ao telão para mais um filme. Em tempo integral, a escola oferece aulas regulares no período da manhã e oficinas no período da tarde. É dia de cineclube.
Curiosos e já bem relaxados, aguardam a exibição do filme O Saci, de Rodolfo Nanni, para a comemoração do dia do saci, no dia 31 de outubro.
É o primeiro filme infantil brasileiro produzido em 1951 e comemora este ano 60 anos de vida!
Coordenado pela professora Maria Sueli Costa Gabardo, o projeto foi criado em conjunto com a diretora Silvana Vairoletti e seu assistente José Manuel Almeida Braz como mais uma opção de educação cultural. Abrem-se as cortinas. Olhos atentos e curiosos.
Coordenado pela professora Maria Sueli Costa Gabardo, o projeto foi criado em conjunto com a diretora Silvana Vairoletti e seu assistente José Manuel Almeida Braz como mais uma opção de educação cultural. Abrem-se as cortinas. Olhos atentos e curiosos.
A primeira surpresa: é um filme em preto e branco. Mais um pouco e nova surpresa: Narizinho, Pedrinho, a boneca Emilia, Dona Benta, Tia Anastácia e Tio Barnabé. Todos reconhecem, animados, os personagens do Sítio do Pica -pau Amarelo. O Saci é um filme baseado no livro de Monteiro Lobato, escrito em 1921, há 90 anos!
Os atores são desconhecidos dessa geração, mas todos se encantam com Aristéia Paula de Souza que interpreta Narizinho, com Livio Nanni como Pedrinho, Olga Maria como Emilia, Maria Rosa Ribeiro como Dona Benta, Otávio Araújo como Tio Barnabé, Benedita Rodrigues como Tia Nastácia, Paulo Matozinho como Saci, Maria Meneghelli como Cuca e Yara Trexler como Yara.
Os diálogos são bem acompanhados pelas crianças que se deixam levar pela trama bem montada, cheia de suspense, medo, tristeza, raiva e alegria.
Lá onde reinam os sacis, há tempo de comer pipoca, matar a sede com água, brincar na mata e se encantar com seus mistérios. A doce e sensível música de Claudio Santoro vai transportando as crianças com as canções de roda para as tradições de todas as regiões do Brasil. É um filme cheio de canções, no trabalho, na brincadeira e até no descanso. Sem aquela coisa batida da televisão, a história segue com muitos tempos para descansar, relaxar, rir, se aventurar, ter medo, ódio e chorar.
A hora da agitação começa quando Pedrinho avisa Nastácia que vai pegar saci. Vai dando uma curiosidade para saber como é que isso pode acontecer. Será que pode? Não pode? É o Barbanabé quem dá a receita. E Monteiro Lobato teve que ouvir muita gente para saber direito toda essa história de pegar saci em dia de vento com peneira, garrafa e rolha com cruzeta.
O mais bonito acontece. Pedrinho fica amigo do saci, abre a garrafa e o liberta. Aqui começa a aventura da amizade. Um sentimento bom e gostoso que deixa a tarde ainda mais gostosa na escola. Agradecido, o saci mostra os seus poderes mágicos e jantam juntos no meio da mata, à luz do luar.
As crianças e adolescentes do Eurico acompanham, em silêncio, a chegada da sacizada toda. Quietinhos, apreciam a reunião divertida dos sacis no meio da mata, dançando e pulando em círculos.
Zoinho prum lado, zoinho pro outro... Os sacis não deixam nada passar. Eles são muito espertos, inteligentes, criativos e poderosos. E tudo, então, se revela. Os sacis não se parecem em nada com que diziam nas lendas, que eram malvados como diabinhos.
Aos poucos, cada um percebe que o saci é mesmo um amigão, como dizia Pedrinho. Conhece tudo e pode ajudar sempre que for necessário. Só é preciso, também, ser amigão do saci. Narizinho em perigo, presa pela Cuca, quem ajuda é o saci, é claro. E a amiga se aproxima da outra, enquanto assistem ao filme, aconchegadas na tristeza que sentem junto com a vovó que chora de preocupação pelos netos. Tudo tão verdadeiro, como história real.
E a criançada se põe a rir com prazer quando Anastácia, que falava tão mal de saci, deu de cara com um bem ao seu lado: - Saci! Cruz credo! – gritou com aquela voz conhecida de nossas mães, tias, avós, vizinhas...
Risadas também explodem quando o bem vence o mal, quando o saci, sem medo da Cuca, prende a malvada e a ridiculariza. Há malvados, sim, mas também há bondosos como os sacis, que entendem nossas aflições, nossos medos e nos ajudam.
Contra todos os preconceitos, o saci vai mostrar o seu valor, o valor do amigão, cheio de coragem para se arriscar pelos amigos, cheio de lealdade, de senso de justiça, e, principalmente, de poderes mágicos. Foi assim que esse amigão ajudou a salvar a Narizinho e trazê-la para a vovó desesperada. Risos altos tomam conta da escola quando Narizinho, agradecida, acaricia o rosto do saci: “Saci, que belezinha !” A escola se enche de alegria, gratidão e carinho.
Um livro de 90 anos atrás, com um filme em preto e branco com 60 anos de idade, pelos poderes do saci, se renova e ensina no Eurico o valor da amizade. E ali, entre todos, os amigos se abraçam, bem à vontade. Final do filme, todos aplaudem e começa o debate. Por votação, os estudantes elegem O Saci como o melhor filme que já assistiram. Depois dele, o melhor é o iraniano Filhos do Paraíso, dirigido por Majid Majidi. Muitos analisam as diferentes criações dos personagens no filme e na televisão, comparando as adaptações. Observaram a linguagem, as gírias da época, bem como as palavras de origem africana, como aquelas usadas pelo Tio Barnabé. Tudo no filme é muito diferente, mesmo. Mas, muito emocionante e fácil de compreender.
A professora Sueli pergunta: Será que o saci existe, mesmo? A ventania daquela tarde, como no filme de Rodolfo Nanni, derrubou o telão. Será que foi o saci? Muitos ficaram na dúvida. Outros disseram que acreditam, sim. Uma menina disse que já viu saci aqui na cidade. Outra menina pediu a palavra: “Com este filme, aprendi que a gente não pode julgar as pessoas pelo que falam dela, como acontece com o saci, mas pelo que ela é e faz.”
Mas, a verdade, mesmo, é que o saci havia saltado da tela para dentro da escola. Queremos saber, agora, como foi a comemoração que as crianças fizeram no dia do saci, no dia 31 de outubro. Esperamos que os estudantes do Eurico nos mandem notícias das brincadeiras e reinações desse nosso amigão.
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