Minha leitura de Monteiro Lobato acontecia em vários locais na minha infância (anos 70): na escola, em casa, na biblioteca de parentes, etc. Mas uma coisa que é forte também era quanto eu queria correr da saída da escola para casa porque cinco da tarde era a hora de assistir ao Sítio do Picapau Amarelo. Era hora de ver a Dona Benta contando histórias, o Tio Barnabé ensinando a pegar o Saci, a impertinência de Emília, a sabedoria do Visconde, os bolos da Tia Nastácia (e o medo dela do Minotauro!), de me identificar com a curiosidade de Narizinho e Pedrinho e, claro, morrer de medo da Cuca... Mesmo relendo Lobato para crianças aqui por causa de minha vivência em literatura infantil com CRESCER, eu realmente não tinha voltado tanto no tempo quanto ao conhecer o Sítio do Picapau Amarelo, inaugurado sábado dia 25 no município de Mairiporã, a mais ou menos 30 minutos da capital São Paulo.
A ideia principal de Lobato de que não importa separar uma linha entre a realidade e a imaginação ficou nítida ali. É um sítio como outro qualquer. Mas também é o Sítio do Picapau Amarelo. A infraestrutura e resultado é bem diferente do já bastante visitado Sítio localizado em Taubaté, onde Monteiro Lobato nasceu, que recebe dezenas de visitantes com ações de incentivo à leitura e ambientação rural para levar as crianças a uma viagem no tempo. Neste, também há a intenção de transportar as crianças para o universo dos livros de Lobato. Há uma parte de teatro – onde as crianças vão assistir uma apresentação de todos os personagens com Pedro Malasartes como mestre de cerimônia - e há uma vendinha com produtos licenciados, claro. Mas existe ali também uma reprodução da Casa da Dona Benta de emocionar. Como um museu, a criança pode observar móveis e utensílios como os descritos por Lobato (dos anos 30 e 40) de longe, tocar em alguns detalhes e se divertir quando chegar na cozinha: Tia Nastácia está lá preparando quitutes como seu apetitoso bolinho de chuva e certamente vai precisar de ajuda.
Todo ambientando como uma chácara – com gramas e caminhos de cimento – as crianças, em grupo, vivem uma espécie de circuito, monitoradas por jovens que têm a função não somente de entretê-las, como também de leva-las a vivenciar as histórias de Lobato. Outros dois locais são impressionantes – como uma produção feita para a televisão. O primeiro é a Cabana do Tio Barnabé, com sua cama de palha, botinas, imagens de santos e chapéu de palha. O segundo é a Gruta da Cuca , sombria como a que sempre imaginamos, com ratos, caldeirão e outros apetrechos para dar medo. Do lado de fora, o Reino das Águas Claras é um ambiente aos moldes de um miniparque de diversão (com esculturas para as crianças se sentarem) e é onde acontecem as contações de histórias, com direito a um baú cheio de fantasias prontas para serem usadas.
No Reino Encantado, as crianças podem literalmente entrar e sair de livros e , em salas separadas , brincar com brinquedos artesanais, desenhar e pintar ou , ainda, se divertir em uma pequena viagem de sensações e texturas em um labirinto, uma referência ao Labirinto do Minotauro. Por ali, como no Sítio, tem também um galinheiro, uma horta e uma jaqueira. A ideia da GloboMarcas e dos administradores do local é abrir somente para escolas de 2ª a 6ª a princípio e depois aos finais de semana com agendamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário