Fazia um sol quente e parado. Nas árvores, um ou outro tico-tico só; e no chão, só formiguinhas ruivas. Para matar o tempo a menina pôs-se a observar o corre-corre delas, esquecendo a briga com a boneca.
— Já reparou, Emília, como as formigas conversam? Que pena a gente não entender o que dizem…
— A gente é modo de dizer — replicou Emília — porque eu entendo muito bem o que dizem.
— Sério, Emília?
— Sério, sim, Narizinho. Entendo muito bem e, se você ficar aqui comigo, contarei todas as historinhas que elas conversam. Repare. Vem vindo aquela de lá e
esta de cá. Assim que se encontrarem, vão parar e conversar.
Dito e feito. As formiguinhas encontraram-se, pararam e começaram a trocar sinais de entendimento.
— Fiquei na mesma! — disse a menina.
— Pois eu entendi tudo, — declarou a boneca. – A que veio de lá disse: “Encontrou o cadáver do grilinho verde”? A que veio de cá respondeu: “Não”! A de lá: “Pois volte e procure perto daquela pedra onde mora o besouro manco.” Esta formiga que dá ordens deve ser alguma dona-de-casa lá do formigueiro. E repare seus modos de mandona; está sempre a entrar e sair do buraquinho, como quem dirige um serviço. A outra com certeza é uma simples carregadeira.
Havia de ser isso mesmo, porque logo depois chegou uma terceira, muito apressada, que cochichou com a mandona e lá se foi mais apressada ainda.
— Que é que disse esta? — perguntou Narizinho.
— Disse que haviam descoberto uma bela minhoca perto da porteira, mas que precisavam de ajutório para conduzi-la.
— Emília, você esta me bobeando! — exclamou a menina desconfiada. – Vou ver, e se não for verdade você me paga. Espere aí…
E disparou em direção da porteira.
Trecho extraído do livro “As formigas-ruivas”, coleção Pirlimpimpim, Editora Globo.
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