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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

DVD de O Minotauro ajuda a preservar a série original


Sempre que a gente pega um filme ou novela de 20 anos atrás, o choque é o mesmo. Tudo parece incrivelmente lento e discursivo. Com O Sítio do Picapau Amarelo dos anos 80, o resultado não é diferente. A novela de Benedito Ruy Barbosa cuida de manter, até os limites da implausibilidade, o texto gramatical e elaborado de Monteiro Lobato. Hoje em dia, as narrações de dona Benta a respeito de Teseu e Ariadne poderiam certamente conhecer algum tipo de ilustração visual. No seriado antigo, agora recuperado em DVD, não se cogitava disso. A mera voz de Zilka Salaberry, no papel de Dona Benta, teria de dar conta do recado. Com o inconveniente de um som precário e fundo musical de violões infatigáveis.


Pouco importa. Fiz o teste com meus dois filhos, um de sete, outro de cinco anos. O de cinco reclamou: "Tudo é parado, demorado demais". Acho que seu argumento era pretexto, apenas, para o medo do Minotauro, que invade o sítio atrás dos bolinhos de Tia Nastácia. Meu filho maior acompanhou bastante bem as falas de Dona Benta. Talvez fosse uma forma de ganhar prestígio comigo. Quanto a mim, que li O Minotauro antes que a TV chegasse em casa, admirei a fidelidade ao texto conseguida pela adaptação televisiva. Mas é claro que se trata de um raciocínio adulto e irreal. A adaptação do texto de Monteiro Lobato foi feita por um adulto, e cada adulto se preocupa mais consigo mesmo. Resumo da história, o famoso "público", ao qual as redes de TV devem ser atentas para fins de audiência, é tão maleável quanto qualquer outra coisa. O que resta desse DVD? Talvez a possibilidade de pais e filhos compartilharem melhor as suas memórias culturais. Desapareceu, com efeito, o abismo de gerações nesse assunto. As crianças de hoje podem ecoar, num CD, o prazer dos pais que ouviram um disco dos Beatles. "O Minotauro" recupera, para os marmanjos de 30 ou 40 anos, experiências ainda frescas de emoção televisiva.


Os filhos desses marmanjos talvez estranhem a linguagem literária, certa falta de ilustração visual para o que se narra em cena. Nada que, com um pouco de esforço, não se possa vencer. A dramaturgia, vista a 20 anos de distância, parece de sofisticação extrema. Os conflitos entre Teseu e Dionísio, os debates entre Heródoto e Dona Benta, parecem obra de Sófocles hoje em dia. Quanto à leitura dos livros de Monteiro Lobato, tudo indica que se torna mais rara a cada dia que passa. A série, é óbvio, não substitui uma leitura que talvez não aconteça nunca. É que o Sítio e seus personagens deixaram de ter existência literária para ter existência cultural, que sobrevive além dos livros; e o DVD do "Minotauro", recuperado, ajuda essa sobrevivência. Sem facilitações, por certo: é obra de arte, das mais eruditas, a ser imposta por pais saudosos a crianças renitentes.

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