A atriz Jacira Santos, de 28 anos, costumava assistir ao Sítio do Pica-Pau Amarelo quando criança e confessa que morria de medo da Cuca. Hoje, é ela quem veste a personagem na nova versão da obra de Monteiro Lobato, exibida diariamente nas manhãs da Globo. O mérito de dar vida ao malvado jacaré, entretanto, a atriz divide com dois manipuladores — que controlam os movimentos dos olhos e da boca do boneco — e com os demais integrantes do 100 Modos, o grupo responsável pela confecção e manipulação dos bonecos do Sítio.
‘‘Todo mundo faz a sua parte. É um trabalho de equipe’’, conta Jacira, enquanto pinta as escamas da cauda de Cuca. Além do réptil que povoa a imaginação infantil, integram o time de bonecos o porquinho Rabicó, o rinoceronte Quindim e o intelectual Burro Falante. Todos esses personagens, nas versões anteriores para a tevê, foram ‘‘interpretados’’ por animais de verdade. Mas se os bichanos perderam a vez no elenco, os bonequeiros do 100 Modos voltaram a ganhar mais espaço na tevê. O grupo — criado há 22 anos em Porto Alegre — é o mesmo que deu vida a quase 50 bonecos no extinto infantil TV Colosso, exibido na Globo entre 1993 e 1997. ‘‘Aquela cachorrada dava um trabalho colossal’’, brinca Roberto Dorneles, um dos fundadores do grupo. Além do Sítio, o grupo confecciona e manipula atualmente os bonecos do cachorro Sadam, de Casseta & Planeta, Urgente!, e do dinossauro Didino, de A Turma do Didi.
Já o Louro José, do Mais Você, embora não seja manipulado pelo 100 Modos, também foi confeccionado na oficina do grupo. Transformar espuma, látex e tecido em um boneco com movimentos controlados é um trabalho que pode levar até 45 dias e exigir empenho de toda a equipe. O foam latex, material que dá forma à grande maioria dos bonecos, é importado dos Estados Unidos em forma líquida. Depois de injetado na matriz pré-moldada, vai ao forno entre 50º e 100º durante algumas horas. Se a estrutura cozinhar com perfeição — o que nem sempre acontece —, é submetida às próximas etapas, como aplicação de tinta, tecido ou fibra de vidro.
Já os movimentos da boca, dos olhos e da face são obtidos por controle remoto — os mesmos aparelhos usados para dirigir aeromodelos. ‘‘Esse é o momento mais delicado. Um pequeno ajuste faz toda a diferença’’, explica Roberto, que conserva os bonecos ao abrigo da luz e com banhos de talco — senão a espuma vira chiclete.
Em 1986, o 100 Modos trocou Porto Alegre pelo Rio de Janeiro, atraído pelas sucessivas propostas de trabalho em publicidade, cinema e televisão. Apesar dos altos e baixos do mercado, acabou se firmando. Atualmente, o grupo é formado por sete integrantes e por bonequeiros contratados por serviço, que se reúnem numa casa em Jacarepaguá, Zona Oeste da cidade. Na sede do 100 Modos, com dois andares e bonecos para todos os lados, funciona também a oficina. Nas paredes da sala, por exemplo, ficam coladas as listas de tarefas da semana, como ‘‘botar enchimento no Rabicó’’, ‘‘pintar as escamas da Cuca’’ e ‘‘passar talco nos bonecos’’.
Já o trabalho no set de gravação exige bem mais que as habilidades manuais do grupo. É preciso haver a sintonia perfeita entre o ator que veste o personagem, os dois manipuladores, que controlam os movimentos dos olhos e da boca, e o dublador-guia, que lê o texto. Além disso, todo o cuidado é pouco com bem estar do ator-bonequeiro, principalmente durante as externas. ‘‘Não dá para agüentar mais de meia hora dentro do foam latex.
Chega um momento que é preciso parar tudo, tirar a cabeça do boneco e tomar uma água. Senão o ator desmaia’’, adverte Roberto. Apesar do sacrifício, Zé Clayton está satisfeito na pele do Burro Falante e nem faz questão de se tornar um rosto conhecido — desejo comum entre os atores. ‘‘Não me importo em não aparecer. Faço um trabalho melhor dentro do boneco do que fora dele’’, diz o bonequeiro, há 20 anos no ofício.
Notícia:2001
3 comentários:
Muito interessante
sempre tive curiosidade em saber sobre os bonecos
Parabéns a esses profissionais nota 10!
nunca
Eu queria realizar o meu sonho de monta os de monta os meus filmes
Postar um comentário